quarta-feira, 31 de julho de 2013

Felicidade sobrenatural


Início da noite de segunda, último grupo de avaliação para obtenção de CNH. Eu organizava alguns papéis para a última testagem,  todos na sala cansados assim como eu.
Olhei para o grupo e fui contando um, dois,  três... ops, um sorriso?
Seis pessoas e um sorriso!  Mas o que um sorriso fazia ali, naquela hora?

Aproximei-me daquele homem de aproximadamente 35 anos de idade, e percebi que, além do surpreendente sorriso, ele apresentava uma deformidade congênita nas mãos.

Questionei-o sobre suas possíveis limitações diante dos desafios que eu iria impor-lhe. Ele respondeu-me dizendo “não, que não haveria qualquer problema em realizar os testes”.
Decidi então preencher a entrevista para ele, afinal eu queria poupar-lhe o esforço das mãos.
Terminamos os testes, e ele continuava com os olhos vibrantes, sorriso pleno e inundando-me de uma felicidade sobrenatural.

Apesar do meu cansaço físico, a minha mente insistia em querer pesquisar aquele ser que desafiava o adiantado da hora e as nossas limitações físicas. 

Comecei a entrevista. Por favor, me diga qual a sua principal característica? E ele respondeu, “ser feliz ”. A resposta me arrebatou! O sorriso dele mais parecia um rolo de tinta tingindo a sala e a mim. Diante daquela afirmação, suspirei e lhe devolvi um sorriso de admiração.

Naquele instante, morri de vontade de ligar para alguns pessimistas de plantão e outros tantos chorões de barriga cheia!
Inadvertidamente, eu queria mostrar-lhes um ser humano, como se fosse um animal em extinção!

Meu sorriso ainda admirava aquele ser que, para o meu deleite, justificou a sua resposta,“Como eu não poderia ser feliz? Apesar das minhas dificuldades, fiz uma faculdade, passei em um concurso, sou professor de matemática e minhas últimas cirurgias nas mãos foram um sucesso! E agora estou aqui, fazendo minha carteira de habilitação.”.

Qualquer pessoa otimista diria que o professor de matemática soube fazer a melhor conta da sua vida.  Até porque todo otimista sabe fazer a conta justa de suas vitórias!

Nesse mês viajei para Colômbia, e uma das primeiras surpresas foi encontrar no hall de entrada do hotel, em Bogotá, um imenso e deslumbrante arranjo de flores. Ao ver aquela imagem estupenda no tamanho e nas cores, me aproximei do arranjo. Olhei para os lados para que ninguém percebesse e toquei nas flores desconfiando que pudessem ser artificiais. Surpresa! Eram flores naturais!

Em Cartagena conhecemos Pablo. Ele nasceu em Medellín. Em Medellín? Sim! Disse ele, “e sabem que lá nós temos uma tradição?”.Eu e meus amigos só poderíamos  dizer que conhecíamos  uma tradição, a do  “Cartel de Medellín”.Pablo sorriu, balançando a cabeça, sabendo da fama da cidade. Ele então, pegou o seu celular e se empenhou em nos mostrar as imagens da tradicional festa da cidade e a sua versão colorida da cidade de Medellín.

Medellín é conhecida como a “Cidade da eterna primavera”. Em agosto, a cidade é inundada de arranjos de flores, sendo que o evento mais representativo da Feira é, sem dúvida alguma, o Desfile dos Silleteros, onde camponeses percorrem grandes distâncias carregando lindos e pesados arranjos em suas costas.

Pablo nos mostrou uma Medellín linda e festiva.  Mas nem por isso deixou de referir algo, que nem recordo agora sobre a tão afamada rede de traficantes de drogas. Ele também poderia ter falado um pouco mais da vida difícil que leva, dos desafios na vida pessoal e do trabalho que desenvolve em regiões de extrema pobreza.

No entanto, Pablo preferiu nos mostrar o seu sorriso. Assim como o professor de matemática, parece que ele resolveu fazer a conta de suas vitórias!

O arranjo de flores naturais no hall do hotel, em Bogotá, parece ser a metáfora perfeita para descrever uma parte de nós diante de uma felicidade que parece sobrenatural.  Essa parte, hesita e  desconfia.  Escolhe o que vê, e inevitavelmente enxerga o lado artificial das coisas.
Não é de se admirar que alguns prefiram não se aproximar...
Pablo e o professor de matemática parecem ter optado pelo toque e, ao tocarem, se preencheram de cores.

Sorte daquele não que se assusta com as cores, como toque e o sobrenatural!



















4 comentários:

  1. A palavra felicidade, em grego “eudaimonia” é composta do prefixo “eu”, que significa “bom”, e de “daimon”, “demônio”, que, para os gregos trata-se de uma espécie de semideus ou gênio, que acompanha os seres humanos. Portanto ser feliz, para os gregos, era dispor de um “bom demônio”, o que estava relacionado com a sorte de cada um. Quem, por ventura, tivesse um “mau demônio” era fatalmente infeliz. Na Ética a Nicômaco, Aristóteles aponta: “Por isso chamamos de absoluto e incondicional aquilo que é sempre desejável em si mesmo e nunca no interesse de outra coisa. Ora, parece que a felicidade, acima de qualquer outra coisa, é considerada como esse sumo bem. Ela é buscada sempre por si mesma e nunca no interesse de outra coisa; enquanto a honra, o prazer, a razão, e todas as demais virtudes, ainda que as escolhamos por si mesmas (visto que as escolheríamos mesmo que nada delas resultasse), fazemos isso no interesse da felicidade, pensando que por meio dela seremos felizes. Mas a felicidade ninguém a escolhe tendo em vista alguma outra virtude, nem de uma forma geral, qualquer coisa além dela própria”. Ser feliz não é para qualquer um. Parece que a felicidade está cada vez menos presente no cotidiano do ser humano moderno. Parabéns Cláudia. Você foi muito feliz em tratar do ser feliz, de flores e sorrisos. Viva a felicidade.

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  2. Linda crônica, Cláudia! Está te superando na percepção dos detalhes que nos fazem humanos e melhores!
    Coisa boa!

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  3. Querida amiga!
    Aprendi na minha vida que não devemos passar o tempo todo reclamando. Aprendi que devemos viver como se fosse o último dia da nossas vidas e que no dia seguinte renasceremos para conquistar novos obstáculos. Nunca se esqueça "A persistência é algo digno daqueles que não desistem dos seus sonhos".
    Att.: Professor de matemática

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  4. Querida amiga!
    Aprendi na minha vida que não devemos passar o tempo todo reclamando. Aprendi que devemos viver como se fosse o último dia da nossas vidas e que no dia seguinte renasceremos para conquistar novos obstáculos. Nunca se esqueça "A persistência é algo digno daqueles que não desistem dos seus sonhos".
    Att.: Professor de matemática

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