sábado, 28 de setembro de 2019

DO COLETIVO À CIDADE


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Centro de Porto Alegre
Era um daqueles dias  estressantes, e eu ali congestionada pela quadragésima vez no mesmo local da Avenida Ipiranga. Ao meu lado, um ônibus lotado. Então comecei a observar as pessoas ali, uma a uma, até porque, tempo era o que não me faltava. Comecei a invejar as pessoas...Sabe aquela inveja meio incoerente? Mas que na realidade, tinha fundamento. Ah! Eu sentia que havia uma inversão de lógicas naquele meu sentimento.Como imaginar que eu aparentemente protegida no conforto do meu veículo, desejava estar dentro do ônibus lotado? Pois eu queria! Ah como eu queria! Ah eu queria mesmo era abandonar o meu carro e sair caminhando. Tudo para ter a paz de confiar meu trajeto ao motorista de ônibus. Sim que queria! Mas eu seguia ali confinada no conforto fazendo esta reflexão pela primeira. Eu me sentia, maneada feito bicho, controlada, resignada e muda! Andando e parando, ponto morto, ventoinha girando e a música não  me consolava mais. Eu só  queria chegar em casa... só chegar. Ah! Mas e se eu estivesse dentro busão? Provavelmente estaria interagindo, isso sim! Reclamaria com alguém da obra, do viaduto, da ponte, e do tal supermercado que nunca foi construído em 40 anos.  Mas eu estava dentro do meu carro, encapsulada na minha responsabilidade. Embrulhada dentro do meu livre arbítrio. Vedada pela minha individualidade. Ali com os meus botões, pensando que eles não me serviam de nada. Naquele congestionamento éramos todos igualados pela inércia. E eu pensava também, como alguém aguentava aquilo todos os dias aquilo no mesmo horário? Depois daquele dia, eu decidi que iria me dedicar mais usar mais o transporte coletivo. 
Eu me sentir mais gente! Eu queria ler o livro, conversar à toa, escutar a música, olhar pela janela, observar a cidade, a árvore, o povo e o céu. A vida pulsa dentro de um transporte coletivo, ela te exige um olhar mais atento, andar junto é assim. Porque transporte coletivo é luta, convívio e diversidade.  É como a areia de praia, num dia você  divide o espaço com a madame, no outro com o estudante, no outro com a diarista. E se a maré subir todos precisam levantar suas bundas e se mover,
O coletivo é um espaço de convivência, mesmo que ninguém se olhe ou converse.
Ser Coletivo é ser cidadão e me faz sentir plugada  na vida da cidade.
É como caminhar ou andar de bicicleta, você se conecta com as verdadeiras distâncias e relevos.
Desde aquela noite repensei o transporte individual e consegui perceber o quanto a forma como nos locomovemos pode reforçar ou abrandar nosso individualismo. De fato a conectividade dos veículos está muito longe de conectar-nos com a realidade de nossas cidades.

sexta-feira, 27 de setembro de 2019

AMANHÃ VOCÊ JÁ ESQUECEU...

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Amanhã você já esqueceu.
Do Museu.
Da Mariele.
Do Músico.
Da Mata.
Da Ághata.
Da Barbárie!

Amanhã você já esqueceu...
Talvez porque ninguém tenha te lembrado.
Que ao esquecer do outro
Você também deixou de existir.
Deixou de ser, deixou-se...

É que a vida te apanhou no meio do caminho.
Sim!
Amanhã você tem mais uma conta para pagar.
"É vida que segue", é o que você vai dizer...
Sim. A tua segue.

A do outro se foi...
E você não tem nada com isso.
Nada!
Você não tem Nada...
É verdade.
Você não tem Nada.

sábado, 14 de setembro de 2019

A DEUS PERTENCE...


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Uma das histórias mais impressionantes que eu escutei por ai. Foi de um rapaz que se acidentou de moto e relatou-me, que além dele ter sido a vítima, uma outra pessoa tinha morrido.
O relato me impressionou.
Um senhor colidiu em sua moto, e logo a ambulância chegou para socorrê-lo, constataram que ele tinha apenas algumas escoriações leves. Eis que o senhor de idade avançada e muito nervoso com o acidente, começou  a passar mal no local. Ambos foram colocados na ambulância, mas apesar da proximidade do trajeto até o Hospital da cidade, o idoso acaba falecendo.
Até então uma trágica história, não fosse os desmembramentos após aquela morte invertida ou inusitada. O rapaz então disse-me que a vítima não tinha um familiar vivo e responsável por ele.
Como assim? Ninguém? E ele respondeu:  ninguém.
E o que você fez? Enterrei ele e providencie tudo que estava ao meu alcance.
Não fiquei sabendo dos pormenores, mas esta para mim é aquela história que sempre conto para aquelas pessoas querem prever seus futuros.
Uma amiga de longa data, e que deve ter mil vidas, e ter feito muitos procedimentos cirúrgiccos e de risco, sempre profere a seguinte frase: "O futuro a Deus pertence". É! Me parece que sim.
Aliás eu passei a vida inteira escutando uma pessoa da minha família dizendo que quando ela morresse e isso e aquilo. E eu sempre imaginava que aquele funeral iria acontecer logo.  Mas a verdade é que a pessoa viveu muito para enterrar um bando de gente antes dela.
A vida não se precipita, tão pouco se atrasa.
Não a tomamos pelas rédeas e a conduzimos como queremos.
Após ouvir aquela história incrível do motociclista, fiquei imaginando quantas vezes aquele senhorzinho solitário, teria sofrido por não ter viva alma para um dia enterrá-lo dignamente.
Mas a vida se encaminhou de tudo, e através das mãos daquele rapaz de olhar tranquilo e ares de missão cumprida.
Sobre este tema, dia desses eu conversava com uma amiga, sobre o direito ou não à eutanásia, e sobre a tal da "eutanasia branca". A primeira vez que eu escutei esse termo, foi de um familiar que teve de decidir após meses de internação de seu pai, se mantinha ou não, uma determinada medicação.
Seria uma espécie de  sugestão dos médicos, e hoje sei que até alguns admitem abertamente essa prática. Pelo que eu entendi, seria como deixarmos o corpo se encarregar do fim.  No caso, os familiares não tiveram coragem de reduzir a tal medicação, por que segundo eles, morreriam de culpa se o fizessem.
Concluí que, de nada adianta alguém nos dizer "se eu ficar assim ou assado, desliguem tudo". Primeiro que é crime, e segundo que a chapa esquenta para quem fica.
Em tempos de um super controle,  tecnologias, horários, ritmo exaustivo de trabalho e mil cobranças, me parece que o imponderável ainda nos assola.
Nunca saberemos tudo, e mesmo que a medicina nos prolongue a vida, que a cigana lhe diga, que o mapa astral preveja, ou que a linha da sua mão seja longa.
É melhor que deixemos a vida ou Deus se encarregar de alguns futuros. E o presente?
Este sim! Nos pertence!