terça-feira, 21 de abril de 2015

Fiu Fiu... Pode?



Um dia perguntei a uma adolescente o que ela achava dos rapazes da sua escola.

Para minha surpresa ela mal olhava para eles. Sugeri que, naquela semana ela  prestasse mais
atenção. Em pouco tempo a adolescente havia estreitado sua relação com os rapazes da escola.

Essa experiência me convenceu de uma coisa, nossa existência se dá onde debruçamos nosso olhar.


Assistindo a uma entrevista da escritora e feminista Clara Averbuck, me senti  extremamente tensionada ao ver o comportamento da entrevistada.  Os olhos e a voz  dela pareciam uma bazuca prestes a atirar no primeiro homem que passasse a sua frente. Eu, particularmente, entendo as razões do comportamento belicoso de qualquer ativista. Mas, naquela ocasião, a postura da entrevistada me pareceu desproporcional.

Concordei com a maioria das suas colocações,  eu também enxergo esse mundo machista em cada esquinaonde passo. Percebo a guerra velada entre os sexos nas organizações e tantas minúcias do cotidiano que passam despercebidas pela maioria das mulheres.  Mas não concordei com um ponto da entrevista, apesar de compreender o fundamento, foi a tal história do "fiu fiu".

A entrevistada explicou que os homens  não têm o direito a expressarem o  " fiu fiu"  às  mulheres que porventura achem interessante na rua. Segundo ela, seria como se eles estivessem emitindo uma opinião sem terem sido perguntados. Seria assim: - Fiu fiu! E ela responde: - Qual é, mané? Não te perguntei se eu sou gostosa!?

Sejamos francas e humanas, eu, aos meus 44 anos de idade, entre tantas mudanças de vida impostas, sobretudo por questões hormonais, sei que toda mulher quando muda de corpo se obriga a mudar um pouco de alma. E a mulher oscila demais, um dia ela está bem, no outro se sente um nada na frente do espelho. Num dia nos sentimos aos 44 do primeiro tempo, e isso é ótimo. Mas, em outros momentos, somos invisíveis para nós mesmas, que nem um gol no final do jogo nos salva![D2] 

Ano passado, viajando sozinha a Lisboa, eu caminhava pelo centro da cidade e me vi surpresa com a minha surpresa ao receber um cortejo publicamente. Achei muito diferente e confesso que apreciei! Em geral,  as mulheres reclamam de um 8 ou um 80 neste quesito. Ou seja, ou o homem exagera ou ele simplesmente ignora demais.

Hoje pela manhã saí para correr numa avenida bem movimentada. Geralmente passam muitos carros, e notei algumas manifestações que em nada me ofenderam. Então lembrei a entrevista da feminista e fiquei pensando se era para eu me ofender ou não, ora bolas, eu não me ofendi. Automaticamente me senti culpada por não ser a mulher analítica e intelectual de sempre. Naquele momento, eu era apenas uma mulher que estava envaidecida e  pensando no tal "fiu fiu".

Na volta da corrida, e querendo ainda me eximir daquele sentimento de vaidade, resolvi observar quem fazia o tal "fiu fiu".  Não foi surpresa ver que eram os homens, aparentemente menos intelectualizados,  os mais "saidinhos". Isso me lembrou aquela piada infame,  que se você está deprimida deve passar em frente a uma obra para receber um "fiu fiu".  Francamente! Esse tipo de coisa é também preconceituoso! Com a mulher? Não!  Com a categoria da construção civil!

Mas aí eu fiquei pensando se este  homem não seria mais natural? Olhou, sentiu, expressou.  Do ponto de vista feminista,  não chamaríamos de espontaneidade. Seria o tal bicho-homem, sem educação, mal-educado, troglodita, machista, autoritário, invasivo etc.
Mas será que não estaríamos categorizando demais?

A feminista afirmou em seu blog, após uma entrevista ano passado,  que não vivemos mais numa poesia de 1963 nas calçadas  de Copacabana. Ela se referia à famosa música " Garota de Ipanema". Porém, fiquei pensando se naquela época o machismo não imperava muito mais, creio que sim!
E vejam vocês! Mesmo assim " eles" fizeram poesia!!! ???