Um dia perguntei a uma adolescente o que ela achava dos rapazes da sua
escola.
Para minha surpresa ela mal olhava para eles. Sugeri que, naquela semana
ela prestasse mais
atenção. Em pouco tempo a adolescente havia estreitado sua relação com
os rapazes da escola.
Essa experiência me convenceu de uma coisa, nossa existência se dá onde
debruçamos nosso olhar.
Assistindo a uma entrevista da escritora e feminista Clara Averbuck, me
senti extremamente tensionada ao ver o comportamento da entrevistada.
Os olhos e a voz dela pareciam uma bazuca prestes a atirar no
primeiro homem que passasse a sua frente. Eu, particularmente, entendo as
razões do comportamento belicoso de qualquer ativista. Mas, naquela ocasião, a
postura da entrevistada me pareceu desproporcional.
Concordei
com a maioria das suas colocações, eu também enxergo esse mundo machista em
cada esquinaonde passo. Percebo a guerra velada entre os sexos
nas organizações e tantas minúcias do cotidiano que passam despercebidas pela
maioria das mulheres. Mas não concordei com um ponto da entrevista,
apesar de compreender o fundamento, foi a tal história do "fiu fiu".
A
entrevistada explicou que os homens não têm o direito a expressarem o
" fiu fiu" às mulheres que porventura achem
interessante na rua. Segundo ela, seria como se eles estivessem emitindo uma
opinião sem terem sido perguntados. Seria assim: - Fiu fiu! E ela responde: -
Qual é, mané? Não te perguntei se eu sou gostosa!?
Sejamos
francas e humanas, eu, aos meus 44 anos de idade, entre tantas mudanças de vida
impostas, sobretudo por questões hormonais, sei que toda mulher quando muda de
corpo se obriga a mudar um pouco de alma. E a mulher oscila demais, um dia ela
está bem, no outro se sente um nada na frente do espelho. Num dia nos sentimos aos
44 do primeiro tempo, e isso é ótimo. Mas, em outros momentos, somos invisíveis
para nós mesmas, que nem um gol no final do jogo nos salva![D2]
Ano
passado, viajando sozinha a Lisboa, eu caminhava pelo centro da cidade e me vi
surpresa com a minha surpresa ao receber um cortejo publicamente. Achei muito
diferente e confesso que apreciei! Em geral, as mulheres reclamam de um 8
ou um 80 neste quesito. Ou seja, ou o homem exagera ou ele simplesmente ignora
demais.
Hoje
pela manhã saí para correr numa avenida bem movimentada. Geralmente passam
muitos carros, e notei algumas manifestações que em nada me ofenderam. Então
lembrei a entrevista da feminista e fiquei pensando se era para eu me ofender
ou não, ora bolas, eu não me ofendi. Automaticamente me senti culpada por não
ser a mulher analítica e intelectual de sempre. Naquele momento, eu era apenas
uma mulher que estava envaidecida e pensando no tal "fiu fiu".
Na
volta da corrida, e querendo ainda me eximir daquele sentimento de vaidade,
resolvi observar quem fazia o tal "fiu fiu". Não foi surpresa
ver que eram os homens, aparentemente menos intelectualizados, os mais
"saidinhos". Isso me lembrou aquela piada infame, que se você
está deprimida deve passar em frente a uma obra para receber um "fiu
fiu". Francamente! Esse tipo de coisa é também preconceituoso! Com a
mulher? Não! Com a categoria da construção civil!
Mas
aí eu fiquei pensando se este homem não seria mais natural? Olhou,
sentiu, expressou. Do ponto de vista feminista, não chamaríamos de
espontaneidade. Seria o tal bicho-homem, sem educação, mal-educado, troglodita,
machista, autoritário, invasivo etc.
Mas
será que não estaríamos categorizando demais?
A
feminista afirmou em seu blog, após uma entrevista ano passado, que não
vivemos mais numa poesia de 1963 nas calçadas de Copacabana. Ela se
referia à famosa música " Garota de Ipanema". Porém, fiquei pensando
se naquela época o machismo não imperava muito mais, creio que sim!
E
vejam vocês! Mesmo assim " eles" fizeram poesia!!! ???