quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Fórceps hormonal



Depois de muitos meses vivendo uma revolução hormonal precoce e avassaladora, sinto que agora, posso falar!

Este ano tivemos no Rio Grande do Sul, um inverno rigoroso, mas o meu clima, particularmente, era de verão! Enquanto os hormônios me abatiam, assim como o humor e o sono, a escrita ficou comprometida. Escrever ou não escrever sobre algo tão pessoal?
Resolvi me queimar e botar a mão no fogo, já que o restante estava em chamas! Nunca imaginei que os tais fogachos, sempre descritos por personagens humorísticas, fossem me tirar o fôlego e o humor. 
E o que dizer do que defini como “desorientação climática”? Qualquer pergunta é mais fácil de ser respondida do que informar para alguém como está a  temperatura no dia. Você começa a desconfiar. Principalmente, quando se vê esbaforida, se abanando, enquanto todos olham para você sem entender a sua agonia.
As dúvidas persistem em relação ao clima e o que fazer com o desconforto.  Enquanto isso, o fogo se alastra, invade e ruboriza a qualquer hora do dia. Você não sabe se cospe a sua roupa para fora do corpo ou se finge que nada acontece.  Mas o que está acontecendo? O climatério chegou e, com ele, uma revolução hormonal impressionante.
Mas como viver sem estresse, com o calor do climatério ou da menopausa? Como viver esse o choque térmico contínuo e desgovernado? O que seria mais difícil? O verão dentro do inverno?  Ou o verão dentro do verão?  Eu diria que o nível mais alto de dificuldade, definitivamente, seria o verão dentro das noites de inverno.   
Viver uma noite climática invertida exige fôlego! A mulher sente o frio lá fora e,  iludida, se refugia do frio embaixo das cobertas. Mal sabe ela que possui um aquecedor potente no climatério. O problema é que o aparelho dela será acionado diversas vezes no meio da noite... Ela não vai dormir, é certo! E se ela tiver um parceiro? Pobre do homem que tenta dormir ao lado dela. Ah! Coitado! Se todo esse fogo da mulher fosse um sinal de desejo, alguns homens não se importariam  de não dormir. O problema é que, neste período a baixa da libido pode deixar muitos maridos a ver navios só pegando fogo!
Depois dos 30 anos de idade, qualquer mulher percebe que meia hora perdida de sono acaba com a pele. Agora imagine se ela passar meses sem  dormir  por causa da insônia e dos fogachos noturnos. Se a menopausa é um sinal de envelhecimento dos óvulos, o climatério seria o fórceps do envelhecimento! E depois daquela noite literalmente fritando na cama, ela se olha no espelho e pensa que vai envelhecer antes do tempo! Isso sem falar do dia que vem pela frente, sujeito a chuvas e trovoadas de irritabilidade no decorrer das horas!
Mas a saga feminina, em geral, começa muito mais cedo! É na puberdade que a menina toma consciência das primeiras demandas físicas. Tadinhas! 
Ainda tão meninas, e tendo que encarar a visita ao ginecologista. E a mãe da menina então?  A pobre terá a árdua tarefa de convencer a filha de que é muito normal mostrar suas partes íntimas para alguém que ela nunca viu na vida! Ah! Por favor! Isso não é fácil!  É pedreira! Constrangimento necessário, todos sabemos! Mas dizer que é uma maravilha?  Assim como muitas mulheres ainda tentam fazer de conta que o desconforto feminino é bonitinho?!  
Além de sermos forçadas pelos hormônios a sermos mulheres ainda na puberdade. Vocês já notaram que existe sempre uma outra mulher de plantão querendo convencer uma outra de que “faz parte”, “ser mulher é assim, tão lindo”, “parir um filho, tão lindo, tão fácil”, “menstruação coisa linda, já é uma mocinha”. A mulherada se esforça nessa hora! Elas insistem em querer amenizar o sofrimento das próximas vítimas do corpo feminino!
E vocês já viram quem parabeniza a menina que menstrua pela primeira vez? Em geral, são as mulheres da família que parabenizam? Por que será? Nessas horas, muito me agrada a autenticidade do desconforto de um pai, ficam quietos, apavorados!
Por falar em pavor, notícia ruim vem sempre acompanhada.  Menstruação também! Com ela, uma série de constrangimentos, cuidados, paranoias do tipo, se manchou a calça, a bermuda, se alguém pode ver quando ela levantar da cadeira...  Se a cordinha do “ob” não ficou pendurada quando ela saiu da piscina? E será que o professor vai entender que de tanta cólica ela não conseguiu estudar para a prova de matemática? 
Termina menstruação! Termina TPM!  Ufah!  Mês que vem enfrentamos essa fera novamente!  Realmente, a menina precisa ser muito mulher e muito macho também  para enfrentar tudo o que esse corpo feminino demanda! O corpo muda e a mulher muda!
É claro que, eu não poderia deixar de falar sobre a conhecidíssima TPM.  Por sinal um assunto que é motivo de piada entre as próprias mulheres. Mas sinceramente, não vejo graça nenhuma!  A TPM é muito mais do que alguns dias de irritação ou caprichos femininos.  Esse período envolve aquilo que chamo de “dias nublados”. A vida se acinzenta e pode conduzir a mulher a questionamentos nebulosos. 
Por essa razão, tudo parece mais difícil do que realmente é. Inevitavelmente, o fórceps hormonal impelirá a mulher a pensar naquilo que ela não precisava pensar. Por conta disso, elas pensarão demais  nos seus relacionamentos. Mas nem todos percebem que as mulheres e os homens dividem o mesmo espaço e tempo com os hormônios. Por isso, a previsão do tempo alerta: teremos muitos intempéries pela vida. 
E agora?  Alguém se arrisca a responder como está o tempo lá fora?