quarta-feira, 29 de março de 2017

" Por Gaudí "

Por Gaudi
Publicada neste blog em ago/2009

Passei dez dias viajando e foram muitas as percepções entre Espanha e França. Na verdade, foram tantas, que mal sabia como
começar a escrever os textos no blog. A solução foi, então, dividir minhas percepções em vários textos.
Neste escreverei sobre as minhas sensações em Barcelona. Por isso, não posso deixar de mencionar que a entrada na Espanha, pelo aeroporto de Madri – onde fiz a conexão para Barcelona – foi bem complicada.
Fui muito questionada pela imigração e, em determinado momento, acreditei que a pessoa que me atendia estava convicta em me deportar.
Perguntas e mais perguntas, e a última foi: “Por que estás indo para Barcelona e não para Granada?”. Eu achei estranho, mas imediatamente respondi: “Por Gaudí!” A policial me olhou, incrédula, e
prontamente liberou a minha entrada. Eu saí do guichê atordoada epensei:
 Ufa! Gaudí me salvou!
Desde 1997, sou apreciadora da obra de Gaudí. Nesse ano, vi as primeiras fotos de suas obras em Barcelona pelas mãos do Greco, meu chefe nessa época, que viajava muito à Europa. Eu me apaixonei pelas cores dos mosaicos, pelas formas da arquitetura modernista... foi amor à primeira vista! Foi quando decidi que a minha primeira viagem à Europa seria para Barcelona... Por Gaudí! No entanto, a vida,
as relações, o trabalho, a grana, as prioridades não me permitiram realizar antes a viagem dos meus sonhos, mas eu pensava: tudo bem, Barcelona está ali, e Gaudí também!
Sobrevoando Barcelona, avistei a cidade e lá estava a Catedral Sagrada Família parecendo mais um monumento brotado da terra como se fosse uma obra da natureza. Aliás, Gaudí já dizia que sua arquitetura
queria expressar as formas da natureza. Ao ver essa igreja, pensei: “Meu Deus, é verdade!”. Não tenho dúvidas de que o momento mais emocionante da minha viagem foi me deparar com a catedral que ele projetou.
Acho que meu coração parou! Foi uma mistura de sensações. Definitivamente, é uma obra assustadora pelo estilo gótico, rica em detalhes, alémde expressar, de maneira inequívoca, a obstinação de Gaudí.
Dizem que quando ele se formou na Escola Lojta, o professor, ao entregar seu diploma, disse-lhe: “Posso estar entregando este diploma a um louco ou a um gênio”. Eu diria que as duas coisas.
A loucura ou, até mesmo, a fome pode ser o tempero da arte. Bueno, mas retornando à Barcelona, esta é, sem dúvida, um encanto, mas meu encontro ali era realmente com Gaudí. Devo dizer que ele me recompensou com impactos profundos e inesquecíveis. Quando retornei da viagem, um amigo me perguntou se eu ainda estava sindrômica por causa da viagem, ou seja, com vontade de realizar outra o quanto antes. Eu respondi alegremente que sim, e ele me perguntou para onde. Respondi que meu próximo encontro seria com Gustav Klimt. “Então onde será este encontro?”,perguntou meu amigo. Respondi que em Viena, pois é lá que ele viveu e onde se concentra o maior número de suas obras. É lá que encontrarei a alma de Klimt, como encontrei a de Gaudí em Barcelona. Meu amigo sorriu, pois me conhece há mais de dez anos e sabe da minha paixão pela arte e meu gosto pela pintura.
Nessa viagem, conheci alguns museus: Picasso, em Barcelona, Do Prado, em Madri, e encerrei no Louvre, em Paris, onde me comovi, como não poderia deixar de ser, com a Monalisa de Da Vinci. Lá vivenciei um clima impressionante e inesperado para mim, apesar dos flashes de máquinas e um pouco de tumulto como já era esperado.
A energia dessa pintura é a prova de que a arte é a materialização da alma do autor, que resplandece na alma de quem a contempla e sabe apreciar sem necessariamente emitir palavras.
Apenas é preciso sentir e se deixar contagiar.
Só me resta agradecer a Gaudí, a Da Vinci e dizer um “Até breve,
Klimt! Vejo você em Viena!”.

Livro Lógicas Invertidas, 2012.
Cláudia Coelho