sexta-feira, 4 de outubro de 2019

O NASCER DO PÔR DO SOL


Morei no interior de  Minas Gerais por um período, e fiquei encantada pelo verde daqueles cafezais. 
A cidade me encantou com seus morros, estradas curvas, povo amistoso. Além disso, passear pela roça e visualizar as bananeiras, árvores frutíferas e ipês amarelos, era um programa que me deixava muito feliz. Visitar as cidadezinhas que tinham os melhores queijos ou as igrejas mais lindas do Brasil. Ou ir até São Tomé das Letras e se conectar com aquela mística do lugar e suas pedras rústicas. Sem falar dos rios que sempre te acompanham de um lado a outro. Enfim, Minas é um dos lugares mais lindos que eu conheci no quesito natureza e aconchego. 
Mas com o passar tempo, morando em Minas, começou a me bater uma nostalgia do Rio Grande do Sul. Sem as tecnologias atuais, a saudade era para os fortes, mas eu tinha que superar.
Quando retornei à cidade de Porto Alegre, umas das situações que me emocionava era passar por volta das 18h à beira do Guaíba bem na hora do que o sol estava se pondo. Eu sentia como diz a música “que aqui era o meu lugar”. Aquele espetáculo era tão comovente, como se o Sol me dissesse que sempre esteve ali enquanto eu estava fora. E eu não sentia como um crepúsculo, mas como um nascer de um novo dia. Aquele sol parecia me dar uma nova chance na minha cidade.
O pôr do sol do Guaíba nunca mais foi o mesmo, ele se transformou em uma espécie de Oração. 
O mais impressionante, é que a cena apesar de cotidiana, jamais me cansa.
De fato invejo quem mora ali perto, e o mais louco é que eu sinto como uma ingratidão minha não estar ali todos os dias. Sabe aqueles desenhos de criança que a comida soltava um cheirinho que fazia a personagem levitar de olhos fechados? Sou eu procurando uma resga de sol alaranjado no meu retrovisor enquanto viro as costas para ele e lastimo: estou perdendo esse espetáculo...
 A doideira é tanta, que se eu estiver perto e o pôr do sol ameaçar ser lindo, e as nuvens atrapalharem eu suspiro de alívio rsrs...Percebeu que passei de ingrata à egoísta em poucas linhas.
As vezes eu deixo de fazer meu lanche no intervalo de trabalho, e vou até a prainha de Ipanema e fico ali, escutando uma música e olhando a serenidade daqueles dias onde o Guaíba está flat e rosado. Quando isso acontece, parece que o mundo está mais silencioso. Não sei se é uma impressão, mas parece que as aves voam mais lentamente. E eu fico ali naquela cena que eu queria que não acabasse. Quando o Guaíba fica assim, eu lembro das patinadoras de gelo, e me dá uma vontade de bailar naquele reflexo platinado. Nem sempre consigo ver o Grand Finale, que é quando tudo se torna laranja e vermelho. Geralmente faço um última foto achando que é a mais linda, mas quando saio de volta para o trabalho, e olho pelo retrovisor...afff o danadinho me enganou.
O Pôr do Sol pode ser sempre melhor, mas ele também pode te enganar. Em um minuto ele te frustra e some dos meio das nuvens sem se despedir. Mas às vezes quando você desistiu dele, ele reaparece lá no final e acena em segundos de beleza. Esse nosso Pôr do Sol definitivamente me enche de esperanças, me faz parar para simplesmente contemplar. O Pôr do Sol do Guaíba deseja que esqueçamos das preocupações, não que ele se importe, mas de fato ele não esta nem aí para esse mundo. Se  Pôr do Sol fosse um ser humano acho que seria alguém muito otimista. Ele nos diria assim: Ok! Sei que a vida é dura... mas eu estou aqui mesmo assim!  Aproveite o espetáculo!

sábado, 28 de setembro de 2019

DO COLETIVO À CIDADE


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Centro de Porto Alegre
Era um daqueles dias  estressantes, e eu ali congestionada pela quadragésima vez no mesmo local da Avenida Ipiranga. Ao meu lado, um ônibus lotado. Então comecei a observar as pessoas ali, uma a uma, até porque, tempo era o que não me faltava. Comecei a invejar as pessoas...Sabe aquela inveja meio incoerente? Mas que na realidade, tinha fundamento. Ah! Eu sentia que havia uma inversão de lógicas naquele meu sentimento.Como imaginar que eu aparentemente protegida no conforto do meu veículo, desejava estar dentro do ônibus lotado? Pois eu queria! Ah como eu queria! Ah eu queria mesmo era abandonar o meu carro e sair caminhando. Tudo para ter a paz de confiar meu trajeto ao motorista de ônibus. Sim que queria! Mas eu seguia ali confinada no conforto fazendo esta reflexão pela primeira. Eu me sentia, maneada feito bicho, controlada, resignada e muda! Andando e parando, ponto morto, ventoinha girando e a música não  me consolava mais. Eu só  queria chegar em casa... só chegar. Ah! Mas e se eu estivesse dentro busão? Provavelmente estaria interagindo, isso sim! Reclamaria com alguém da obra, do viaduto, da ponte, e do tal supermercado que nunca foi construído em 40 anos.  Mas eu estava dentro do meu carro, encapsulada na minha responsabilidade. Embrulhada dentro do meu livre arbítrio. Vedada pela minha individualidade. Ali com os meus botões, pensando que eles não me serviam de nada. Naquele congestionamento éramos todos igualados pela inércia. E eu pensava também, como alguém aguentava aquilo todos os dias aquilo no mesmo horário? Depois daquele dia, eu decidi que iria me dedicar mais usar mais o transporte coletivo. 
Eu me sentir mais gente! Eu queria ler o livro, conversar à toa, escutar a música, olhar pela janela, observar a cidade, a árvore, o povo e o céu. A vida pulsa dentro de um transporte coletivo, ela te exige um olhar mais atento, andar junto é assim. Porque transporte coletivo é luta, convívio e diversidade.  É como a areia de praia, num dia você  divide o espaço com a madame, no outro com o estudante, no outro com a diarista. E se a maré subir todos precisam levantar suas bundas e se mover,
O coletivo é um espaço de convivência, mesmo que ninguém se olhe ou converse.
Ser Coletivo é ser cidadão e me faz sentir plugada  na vida da cidade.
É como caminhar ou andar de bicicleta, você se conecta com as verdadeiras distâncias e relevos.
Desde aquela noite repensei o transporte individual e consegui perceber o quanto a forma como nos locomovemos pode reforçar ou abrandar nosso individualismo. De fato a conectividade dos veículos está muito longe de conectar-nos com a realidade de nossas cidades.

sexta-feira, 27 de setembro de 2019

AMANHÃ VOCÊ JÁ ESQUECEU...

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Amanhã você já esqueceu.
Do Museu.
Da Mariele.
Do Músico.
Da Mata.
Da Ághata.
Da Barbárie!

Amanhã você já esqueceu...
Talvez porque ninguém tenha te lembrado.
Que ao esquecer do outro
Você também deixou de existir.
Deixou de ser, deixou-se...

É que a vida te apanhou no meio do caminho.
Sim!
Amanhã você tem mais uma conta para pagar.
"É vida que segue", é o que você vai dizer...
Sim. A tua segue.

A do outro se foi...
E você não tem nada com isso.
Nada!
Você não tem Nada...
É verdade.
Você não tem Nada.

sábado, 14 de setembro de 2019

A DEUS PERTENCE...


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Uma das histórias mais impressionantes que eu escutei por ai. Foi de um rapaz que se acidentou de moto e relatou-me, que além dele ter sido a vítima, uma outra pessoa tinha morrido.
O relato me impressionou.
Um senhor colidiu em sua moto, e logo a ambulância chegou para socorrê-lo, constataram que ele tinha apenas algumas escoriações leves. Eis que o senhor de idade avançada e muito nervoso com o acidente, começou  a passar mal no local. Ambos foram colocados na ambulância, mas apesar da proximidade do trajeto até o Hospital da cidade, o idoso acaba falecendo.
Até então uma trágica história, não fosse os desmembramentos após aquela morte invertida ou inusitada. O rapaz então disse-me que a vítima não tinha um familiar vivo e responsável por ele.
Como assim? Ninguém? E ele respondeu:  ninguém.
E o que você fez? Enterrei ele e providencie tudo que estava ao meu alcance.
Não fiquei sabendo dos pormenores, mas esta para mim é aquela história que sempre conto para aquelas pessoas querem prever seus futuros.
Uma amiga de longa data, e que deve ter mil vidas, e ter feito muitos procedimentos cirúrgiccos e de risco, sempre profere a seguinte frase: "O futuro a Deus pertence". É! Me parece que sim.
Aliás eu passei a vida inteira escutando uma pessoa da minha família dizendo que quando ela morresse e isso e aquilo. E eu sempre imaginava que aquele funeral iria acontecer logo.  Mas a verdade é que a pessoa viveu muito para enterrar um bando de gente antes dela.
A vida não se precipita, tão pouco se atrasa.
Não a tomamos pelas rédeas e a conduzimos como queremos.
Após ouvir aquela história incrível do motociclista, fiquei imaginando quantas vezes aquele senhorzinho solitário, teria sofrido por não ter viva alma para um dia enterrá-lo dignamente.
Mas a vida se encaminhou de tudo, e através das mãos daquele rapaz de olhar tranquilo e ares de missão cumprida.
Sobre este tema, dia desses eu conversava com uma amiga, sobre o direito ou não à eutanásia, e sobre a tal da "eutanasia branca". A primeira vez que eu escutei esse termo, foi de um familiar que teve de decidir após meses de internação de seu pai, se mantinha ou não, uma determinada medicação.
Seria uma espécie de  sugestão dos médicos, e hoje sei que até alguns admitem abertamente essa prática. Pelo que eu entendi, seria como deixarmos o corpo se encarregar do fim.  No caso, os familiares não tiveram coragem de reduzir a tal medicação, por que segundo eles, morreriam de culpa se o fizessem.
Concluí que, de nada adianta alguém nos dizer "se eu ficar assim ou assado, desliguem tudo". Primeiro que é crime, e segundo que a chapa esquenta para quem fica.
Em tempos de um super controle,  tecnologias, horários, ritmo exaustivo de trabalho e mil cobranças, me parece que o imponderável ainda nos assola.
Nunca saberemos tudo, e mesmo que a medicina nos prolongue a vida, que a cigana lhe diga, que o mapa astral preveja, ou que a linha da sua mão seja longa.
É melhor que deixemos a vida ou Deus se encarregar de alguns futuros. E o presente?
Este sim! Nos pertence!

sábado, 23 de fevereiro de 2019

Quando eles forem maioria...


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O Mundo vai mudar, quando os homens forem maioria...
Nos postos de saúde
Nas reuniões onde a pauta é o homem
Nas filas de visitas às mulheres presas
Nos cursos de Humanas
Nas Universidades
Nas saídas das Escolas esperando seus filhos
Na hora da refeição dos seus filhos
Nas aulas de dança
Nas reuniões de pais nas escolas
Nas sessões de Psicoterapia
Nas aulas de Artes
Nas salas de aula como educadores
Nas escolas infantis como educadores
Nas enfermarias
Na função de pai amoroso
No cuidado com seus pais idosos
Na defesa da paz
Na defesa dos seus direitos
Na proteção das mulheres
Na proteção das crianças
No cuidado das suas esposas enfermas
Nas aulas de yoga
Nas sessões de meditação
Na defesa da VIDA!!







NÃO SOLTA A MINHA MÃO


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Meu Deus....
Não solte a minha mão
Me dê esse tempo que necessito para chorar o meu luto.
Saiba que não chorei o suficiente a morte de ontem. 
O museu em chamas, levou a nossa história...
Marielle... recém se foi...
O mestre da capoeira também...
Recém chorei pela eleição perdida...
Chorei diante da desesperança.
Meu Deus não solta a mão do meu Brasil
Nos perdoe pela inconsciência.
Deus, por favor nos dê fé, quando mais uma
mulher é assassinada por um homem.
Ou quando uma ativista se suicida, mesmo depois de ter lutado por tantas.
Ou quando alguém abandona o meu país
para poder sobreviver, e nos deixa assistindo os absurdos cotidianos.
Deus te peço...
Não nos retire a indignação para lutar.
Mas nos dê esse tempo para chorar.
Não quero sentir a culpa de não ter homenageado o suficiente, aqueles que
se foram pela ganância e egoísmo de alguns.
Deus me faça crer no amor entre as pessoas.
Mal sequei minhas lágrimas pela lama...por 100, 200 ou 300 que foram enterrados
em Brumadinho...
E lá se foram mais 10 guris...
Enquanto dormiam...
Enquanto nós dormimos sem perceber mais um erro do Deshumano.
Barragens soterraram almas e sonhos.
Labaredas e injustiças levam os filhos e os seus pais na dor.
As viúvas se multiplicam...
Deus me dê mais lágrimas, sem que eu me
sinta exagerada por sentir tudo isso agora.
Sem me sentir insensível pela morte de ontem
Deus não permita que essa vida nos roube até o tempo do luto
Deus me dê esse tempo para chorar...
Mas me dê também a força para lembrar.
Das injustiças e das mortes que ainda não foram explicadas.
Que a minha memória seja preservada.
Para não esquecer dos poderosos injustos!
Que se esqueceram que são de carne e osso.
E que esquecem de todos, todos os dias...
Esquecem da minha gente simples, da gente que eu sou.
Deus me preserve como sempre fui...
Sem perder a fé mesmo que eu esteja só.
Sem perder a serenidade, mesmo que a vida exija o grito, o choro e a voz.
Deus não solte a minha mão!
Una todos perto de mim!
Todos que ainda preservam a Fé!
Não em religiões.
Não em falsos religiosos.
Deus conserva em mim
A Fé na capacidade de amar!
Apesar da dor...
Apesar de muitos que antes seguravam a nossa mão.
E que hoje nos deixam ... E justo agora!
Como se tivéssemos que "tocar esse barco" sozinhos...
Deus, por favor me dê um barco maior!
Preciso recolher tudo que há de bom a minha volta
Tudo que há de amor.
Para poder prosseguir...
Mas sem esquecer nossos mortos.
Compreendendo sempre as lições da vida, e da morte!
Percebendo que hoje é mais um dia luta!
Por todos aqueles que se foram!
E por todos que aqui estão!