quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Tiros de grosserias



Semana passada, eu e a Pati, ao sairmos de um restaurante no bairro Bonfim, nos deparamos com uma chuva de verão muito atrativa. Desprevenidas, decidimos que, aos pouquinhos, chegaríamos até o carro. Atravessamos a rua dando risada, talvez lembrando de tantos banhos de chuva que tomamos juntas durante a nossa infância. Foi então que vislumbramos uma loja cheia de bijuterias indianas na vitrine. Resolvemos entrar, ninguém apareceu para nos atender, mas escutávamos um movimento na sala ao lado, certamente alguém apareceria. Continuamos ali, comentando sobre roupas, etc... Eis que se apresenta uma mulher vestida de indiana, ela nos perguntou se havíamos chamado por ela. Ingenuamente respondemos que não, ela então comentou de maneira ríspida e irônica: - Ah! Aqui é assim, né?! Gaúcho é assim mesmo, vai entrando, e isso e aquilo... Eu e a Pati nos olhamos, sem entender nada ... Talvez fosse uma pegadinha? Quem sabe TPM? A mulher persistiu com o discurso “gaúcho chega chegando, e isso e aquilo...” Eu achei aquilo “meio muito” como eu digo, mas questionei a mulher por pura curiosidade: - Mas e tu? És de onde? E ela, gesticulando, movimentando os braços para cima e para baixo, respondeu irada: - De lugar nenhum, minha querida!!! A mulher continuava chamando todos os gaúchos de ladrões. Fomos nos dirigindo à porta, literalmente escorraçadas pela maluca. Me segurei ao máximo para não dizer uns desaforos, até porque temia que a fera se avançasse em nós. Mas, na saída, de certa forma sãs e salvas, comentei: - Tu precisa fazer mais yoga querida! A mulher bateu a porta, e continuava os xingamentos. Por fim, xingamos também, haja serenidade para tantas agressões gratuitas!!



A chuva havia cessado, eu e a Pati ainda em choque, ríamos de nervosas. A Pati então chegou à seguinte constatação: - Credo, Cláudia, mais uma vez este tipo de situação!? Era verdade, não fazia muito tempo, talvez uns dois meses, nós duas tentávamos, pela terceira vez, tomar um café numa cafeteria perto da casa da Pati. A cafeteria havia passado recentemente por reformas de ampliação, mas parecia manter o mesmo número de atendentes. Não era de se esperar que mais clientes exigiriam mais atendentes. Apesar da longa espera, não desistimos do café, como das outras vezes, mas o aspecto da bebida... sabe, os quatro Efes? Frio, fraco e só faltou a formiguinha no fundo! Chamamos a atendente e comunicamos que não beberíamos “aquilo”, levantamos e fomos embora. Ao sairmos, a Pati reconheceu o proprietário da cafeteria e decidiu comunicar o mau atendimento. O homem escutou a queixa parecendo entediado. Eu observava a conversa de longe, tentando não entornar o caldo do café, e fui me dirigindo ao carro... Mas é claro que dali a pouco não me aguentei e comentei a óbvia relação entre número de atendentes e aumento de clientes... Pra quê! O bicho pegou... O homem que deveria medir uns 2 metros de altura me olhou irado e gritou: - Então me arruma gente para trabalhar?! Eu e a Pati nos olhamos com cara de espanto e pedimos calma ao homem, mas ele, surtadíssimo, gritava no meio da rua até que apontou para mim e disse: - Tu deve ser funcionária pública! Nem preciso dizer que, mais uma vez, paralisamos, e a Pati ainda retrucou: - Ela não é funcionária pública! E o que tem a ver isso? - A cena parecia coisa de maluco! O cara tinha provavelmente preconceito com o funcionalismo público, a outra da loja tinha com gaúchos. Fato é que, diante de tanto absurdo e acusações, não levamos desaforo pra casa, chamamos o homem de péssimo administrador e amaldiçoamos a cafeteria dele! Serenidade tem limite, meu senhor!!
Lá no consultório eu escuto muito a seguinte frase de alguns clientes: - Essa lei do desarmamento é um absurdo! Estão desarmando o cidadão enquanto o ladrão se arma!

Eu me pergunto, será que é só o ladrão que se arma? Será que não há um bando de gente frustrada, amargurada, armada até os tubos, prestes a te acertar em qualquer esquina da vida? Outras prestes a te arrebentar o peito com acusações descabidas ou preconceitos injustos? Gente que invade a tua serenidade para te furtar a paz, o riso, a alegria e te apontar injúrias! Tem muito mais gente armada na rua do que o ladrão armado, podem ter certeza disso! Estranhos atingindo estranhos, tiros de fato ou tiros de grosserias, Enfim, não importa a arma usada, a violência está aí e muitas vezes seremos o alvo!