domingo, 2 de dezembro de 2012

Filhas da Madonna


Eu pensei em começar este texto de diversas maneiras, mas devido aos últimos acontecimentos da semana, sobretudo de queixas de amigas e de amigos, resolvi ser bem "Filha da Madonna" e colocar muita pimenta nesta crônica.



Infelizmente os homens não entenderam a “Like a virgin” dos anos 80.... No fundo, alguns ainda parecem querer “uma virgem” e não tocar o coração de uma mulher, como diz a letra da música...

Quando a música foi lançada em 1984, eu tinha 14 anos e não sabia nada de inglês. Mas pouco importava naquela época, pois o que víamos da Madonna era pura sensualidade e irreverência, e romantismo também. A Madonna daquela época não fazia média! Era como se ela dissesse - Eu sei o que vocês pensam, mas principalmente, eu sei o que vocês desejam!

Conversando há uns 2 anos com a Rita, uma amiga de infância e adolescência, comentávamos de nossos temperamentos, etc, etc, e lá pelas tantas ela escreveu:

- Também pudera, né, amiga? Somos Filhas da Madonna!!!

Minha ficha caiu...sim, nós éramos um pouco como aquele jeito da cantora, ou pelo menos o que ela transmitia... sem travas na língua, autênticas, etc. Pensando bem, ser filha da Madonna nunca foi uma tarefa fácil, não foi nos anos 80, e continua sendo uma batalha nos tempos atuais.

Agora vamos aos fatos. Dia desses um rapaz solteiro, de 30 anos de idade, me disse que as mulheres não o levavam a sério, pois ele estava saindo ao mesmo tempo com três garotas e todas sabiam que ele estava saindo com elas! Ah! Ffala sério?! Pensei que era piada! Ele, indignado, se sentindo injustiçado?! Tipo assim: “elas estão me usando e eu querendo uma mulher "direita"". Fui obrigada a dizer: - Meu queridooooo!!! Você queria o quê? Consideração? Você se considera um homem sério?

Ah! Imaginei que aquele trio de mulheres deveria ser umas “Bad Girl”, como a música da Madonna. Eu escutei a história do rapaz e lamentei pelo conteúdo presente naquele discurso. Alguns homens ainda não aprenderam que uma mulher pode se divertir também com o sexo. Até porque, a mulherada, de tanto cair do cavalo da ilusão amorosa, um dia resolve se agarrar à unha nas crinas do bichinho!

Mas para lá!!! De que adianta tanto avanço, se do outro lado ainda existe o predomínio do julgamento machista, que ainda coloca algumas mulheres na condição de “mulheres não tão apropriadas para o casamento ou compromisso”?

Infelizmente, caríssimas, a realidade pode ser assim mesmo! Isso porque ser filha da Madonna incomoda muita gente! Eu explico. Você tem que se bancar, deve ser feliz independentemente de ter ou não um homem. Eu diria o seguinte: você tem que PRIMEIRO ser muito a fim de VOCÊ! Deve também saber não baixar a cabeça para o julgamento, deve ignorar aquele que acha que mulher decente , por exemplo, é a “pouco rodada”. Aliás, para mim, há nisso tudo uma tremenda incoerência! Ora, se há todos os cuidados de saúde na hora "H", tanto do homem quanto da mulher, não deveria valer: lavou, tá novo? Ou será que não? Agora me expliquem uma coisa... De que adianta um homem selecionar uma mulher com "pouca rodagem", se ele não faz uso de preservativos com nenhuma mulher do harém dele? Queridoooo! Pode até lavar com água sanitária que não vai adiantar! Rapazes, se a mulher lida com a sexualidade dela de maneira prazerosa e divertida, sem tabus, aliás, como a nossa Mami Madonna! Agradeçam! Desculpa, sei que estou pegando pesado, mas escutar discursos machistas de rapazes de 20 ou 30 anos, é de última! Penso que os homens devem ser mais protagonistas e menos vítimas da mulherada que'"ataca" ou "não se dá o respeito", como alguns se referem a elas...

Para finalizar, fica a minha dica para as meninas: Queridaaaasss!!! O mundo masculino infelizmente continua julgando as filhas da Madonna! Portanto, não se iludam, joguem o jogo! Caso contrário, vocês terão que pagar um ingresso tão caro para ver esse show, que precisarão parcelar em mil vezes!!



segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Consciência mesclada





Um dia eu notei que o preconceito racial era mais intenso do que eu imaginava... Não me contive e perguntei ao meu namorado, na época, e negro, em que medida ele realmente sofria preconceito?

Ele respondeu: - Todos os dias, Cláudia!

Aquela frase continha um peso que eu jamais imaginara. E, além de me surpreender com a carga emocional contida na frase, eu também estava surpresa com a “minha surpresa”!



Eu sempre convivi com muitas pessoas negras durante minha infância e adolescência. Por essa razão, acredito que minha alma e minha consciência se mesclaram, sei lá... Mas quando eu escutei meu namorado proferir aquela frase, eu pensei:” talvez eu tenha me alienado de algumas coisas dessa vida em preto e branco!”. Era como se eu tivesse incorporado as cores de todos os meus estimados amigos e amigas negras, talvez para poder ser aceita! Quem sabe se eu banalizei a cor, eu não vi a cor!

Mas o pior é que eu realmente não enxerguei o preconceito! Eu sempre vi outras cores, humores, rumores, amores, vidas, almas, sorrisos partilhados e totalmente independentes da cor! Mais estranho ainda é que alguns indícios do preconceito estavam ali na minha cara e eu não enxergava. Eram frases que “pediam passagem” e eram proferidas por meus amigos em tom de brincadeira: “ Claudinha, negro tem direito!”, ou “ Negro não é palhaço!”. Frases repetidas inclusive por mim, como se aquilo fosse parte da minha realidade, mas não era! Eu não sou negra! Afff!! E por mais que me esforce para entender o preconceito racial, não saberei, posso apenas solidarizar-me e hoje compreender mais...

Então quando alguém provoca a velha discussão sobre as cotas raciais, eu realmente me azedo. E sabem por quê? Porque explicar uma conta que não é sentida no próprio bolso é simplesmente contraproducente. . . Eu sinto vergonha da escravidão. E sinto vergonha de quem diz que, se não escravizou ninguém no passado, então não tem nada com isso!

Mas então eu te pergunto, branquinho, “ Hoje você trabalharia de graça?” e lógico que você responderia: NÃO! E se eu te forçasse a trabalhar? Se eu colocasse a polícia na tua cola, tirasse você de dentro de casa e enfiasse você numa empresa e fizesse você trabalhar de graça por muitos anos? E se você tivesse filhos e eu os escravizasse também, e os filhos dos teus filhos? Me diga? O que seria de você, no mercado de trabalho, o que seria da tua história? E se um belo dia eu te DEVOLVESSE a liberdade? O que você me diria, se ao sair pela porta da empresa, eu te perguntasse: “- Quanto eu te devo?”. O que você me diria? Será que você saberia me dizerquanto eu te devo pela liberdade que eu te roubei? Quanto eu te devo pela história que te surrupiei? Pelas dores da tua alma e do corpo? Pela humilhação e pelo tempo que não ganhou um tostão pelo trabalho feito? Pelo tempo que não estudou??? Pelo tempo que não pôde adquirir bens para garantir alguma dignidade para o teu futuro e o futuro de outras gerações? Sentiu um pouquinho? Sim, só um pouquinho... Quem sentiu mesmo foram os antepassados dos negros de hoje, e que ainda sentem! Ah! É essa parte que você AINDA não entendeu!? Então volte para a "pele do escravo"e imagine... Se além de tudo isso, você continuasse com uma “ficha corrida” estampada na sua pele, uma espécie de tatuagem que lembrasse que você é um retardatário social, que deve fazer mais esforço ou que deve fazer mais para conseguir, pois a tua história de cidadão produtivo simplesmente não existiu? Compreendeu?? Então não me venham falar que não temos que ressarcir o povo negro! Temos sim! Hoje!!! Para sempre? É bem provável que não, mas HOJE é necessário! Sobretudo por entender que a nossa sociedade é hipócrita, nós somos hipócritas quando dizemos que está tudo bem e que achamos que todos vivem de maneira igual, e nos vemos como irmãos???! Você não tem preconceito mesmo? Tem certeza disso?

Ok! Então faça este teste:

Mulheres brancas, imaginem um filho negro sendo gerado no seu ventre, fruto de um amor mesclado, uma amor que não tem cor...

Homens brancos, imaginem seus lindos filhos da cor de suas mulheres negras que vocês admiram e escolheram para serem esposas e mães...

Imaginaram?

Teste simples? Fácil? Sim, mas é fácil para quem REALMENTE não tem preconceito. Meus caros, essa, para mim, é a prova de que você não enxerga cor, enxerga alma , e mais, enxerga o preconceito também! E você aí, que não conseguiu imaginar?? Vá para o final da fila, por favor, e espera a tua vez, pois o preconceito está aí, e querem saber? Perdi a paciência e vou precisar de mais ou menos de uns 300 anos para te explicar de novo! Tá bom esse tempinho pra você? E precisarei desse tempo todo para me recuperar de ter que falar DA COR, que realmente não me importa, mas que IMPORTA HOJE!!

domingo, 23 de setembro de 2012

A vontade anda a pé

Quando eu trabalhava na seleção de pessoal de uma empresa, atendi um homem que me disse ser sua situação financeira, naquele momento, tão precária que não tinha dinheiro nem para pagar uma passagem de ônibus. Eu confesso, achei que era força de expressão e perguntei como ele tinha chegado até ali. Ele, muito sério, me respondeu: “Vim a pé.” Perguntei de onde. Ele respondeu: “De Gravataí.” Percurso aproximado, dele: 25 km. Qualquer pessoa que visse aquele ser humano exausto acreditaria piamente no que ele dizia. Não foi para me impressionar, era realmente comovente a situação.
Sempre achei essa história do João um exemplo de força de vontade. Enquanto eu escrevia esta crônica, tive que fazer uma pausa para atender a porta para a faxineira, que chegava atrasada. Ela justificou o atraso por estar sem grana e uns problemas de última hora, blá-blá-blá. E concluiu dizendo: “Eu vim a pé.” Percurso dela: 10 km. Eu achei muito! Fiquei com dó e pensei: bom, mas ela chegou! O João também chegou aquele dia. E quer saber? Não importa se foram 25 ou 10 km, o que importou para mim foi a chegada, mas sobretudo a vontade deles.
As duas histórias me fizeram crer que não há desculpa para não se chegar. Me ocorre, neste momento, o quanto temos a impressão de que chegamos atrasados na vida de alguém, ou em algum espaço de convívio ou trabalho. Como se tudo parecesse pronto e resolvido, e estamos ali meio descompassados, parecendo que a gente correu feito um bobo e o ônibus partiu nos deixando ali, ou que encostou lotado e você pensa que não vai conseguir entrar.
Tem gente que pensa que a vida deveria ser como descer e subir de um ônibus, certos de que a próxima condução estaria ali nos esperando. Haveria espera nesse caso? Não. E aquele ônibus iria passar? Sim. E do mesmo jeito você embarcaria? Sim, mas poderia levar mais tempo.
Hoje enquanto dirigia, conversava com um amigo sobre os congestionamentos em Porto Alegre. Ele comparava o indivíduo que dirige com aquele que é passageiro de transporte coletivo. Ele me dizia que, quando dirigimos, nós ficamos muito mais tensos e envolvidos com o estresse do trânsito. Eu complementei: “Talvez por sermos responsáveis pela nossa rota, pela nossa chegada.”. Meu interlocutor seguiu dizendo: “Pois é, quando estamos num ônibus, por incrível que pareça, acaba sendo mais tranquilo. “Sim, pois tudo está nas mãos do motorista”, eu falei.
Depois da conversa, mais associações surgiram sobre o assunto: o ônibus, "o coletivo" que não se envolve naquele caos específico; ao mesmo tempo, nós, "indivíduos motorizados", seres tão isolados, com um controle nas mãos, porém engessados, congestionados, irritados, inertes, atrasados e exaustos.
Qual seria o mais liberto nesse instante de caos: “O coletivo" ou "o indivíduo"?, O coletivo mal-acomodado, mas sem escolha?, o indivíduo motorizado, mas que não tem controle?, ou o indivíduo a pé, mas tem vontade?
Não sei quanto ao transporte, mas uma coisa é certa: prefiro a vontade!

 

Começando do zero!



Amigos leitores!
 
Depois de dois meses completamente envolvida com a organização de meu primeiro livro, fiz uma pausa no blog. Começarei do zero, assim como em 2008,  quem sabe assim teremos em breve um novo livro!
 
Sem dúvida, o blog estimula e disciplina a escrita, além de ser um valioso termômetro, portanto, prosseguirei aqui como sempre! 
 
O livro "Lógicas Invertidas" será lançado na 58 Feira do Livro de Porto Alegre! Espero vê-los por lá!
A coletânea contará com 57 crônicas que foram publicadas no blog entre 2008  e agosto/2012,  além de três crônicas inéditas e com assuntos bem polêmicos, do jeito que eu gosto!
 
Convido todos a sessão de autógrafos dia 10/11/12 as 18h! O livro ficou lindo!
 
 
 
 
 
 
Queridos leitores, as crônicas foram retiradas obviamente porque foram para o papel, sem dúvida subiram de posto, foram revisadas e aprimoradas para publicação e agora espero que criem asas e voem...

 
Caso desejem alguma crônica via blog terei imenso prazer em encaminhá-las ou por email, ou publicando novamente por aqui!
 
Abraços a todos, é muito bom compartilhar minha alegria onde tudo começou!!
 
Cláudia Coelho