sábado, 30 de novembro de 2013

As tartarugas e o Tinder

As tartarugas-macho estão nascendo cada vez menos...

Fiquei sabendo disso em João Pessoa, quando conheci o Projeto Guajiru. A coordenadora do Projeto explanou sobre o assunto, salientando que a reprodução das tartarugas estaria ameaçada tendo em vista  o gradual aumento da temperatura dos oceanos. Segundo a coordenadora, a temperatura das águas influencia na definição do sexo das tartarugas. Ao escutar aquela informação, foi praticamente inevitável transpor  a  situação para superfície...
Atire a primeira pedra quem nunca teve curiosidade em conhecer um site virtual de namoros?
Com licença, mas na minha condição de ser avulsa, livre e desimpedida, não poderia deixar de dar uma espiadinha nessa virtualidade. Naquela época, aprendi algumas dicas para sobreviver a estes sites cruéis! A primeira é: aprenda a ser rejeitado, e a segunda, rejeite!
Além do exercício de auto-estima, compreendi que as ilusões da busca de um “par perfeito”, se reproduzem tanto no mundo virtual como no real.  Mas já que as incertezas são imanentes ao mundo virtual, por que seguimos na esperança de encontrar?
Neste momento, vocês poderiam estar pensando que nem todo mundo quer a mesma coisa num site de relacionamentos. É verdade,  talvez seja a parte mais dura dessa brincadeira!
 A virtualidade filtra, seleciona como se quisesse fazer o nosso papel. Enfim, há certamente um interesse de economizarmos nisso tudo. No entanto, o mundo virtual nem sempre garante a  blindagem. Percebi na minha experiência virtual que há mais possibilidades de você conhecer pessoas com algum tipo de fobia social, por exemplo. Há mais chance de encontrarmos pessoas com mais dificuldade de encarar o “face to face” das baladas e dos botecos.
Bom! Mas também não quer dizer que os corajosos estão na noite. Quer fazer um teste? Observe a primeira hora de uma festa, depois repita a observação. Após duas ou três horas de consumo de álcool, você verá um bando de corajosos e corajosas! Hum, assim é fácil!
Mas e na virtualidade? Estaríamos livres da presença do álcool?  Infelizmente não. Só do bafo de trago! Sabe aquele verdinho-online às 3h da madruga? Pode ser um caso de “virtualidade embriagada”: escrita soltinha, perdão frouxo, desabafo inesperado, juras e mais juras de amor...  Sugiro que você aumente a dosagem de paracetamol no outro dia, caso você  pense em olhar  o registro de suas conversas da noite.
Nas últimas semanas, conheci um novo aplicativo chamado Tinder.  É o aplicativo do momento, hiperssimplificado. Um “X “na cara do vivente significa “não gostei do que vi”, do contrário, você clica num coração significando “talvez ”,  “aparentemente parece legal”. O aplicativo faz o resto e apresenta “as partes” para um possível encontro virtual ou real.
Duas semanas de Tinder foi o suficiente para eu ter vontade de  criar um aplicativo que derrubasse os perfis de homens casados, no estilo “se colar colou”!
Descobri que eu sou exigente e ninguém tem nada com isso. Antes que o próprio Tinder me excluísse por falta de matchs, que é como chamam quando os corações são mútuos, eu resolvi me excluir. O golpe de misericórdia foi constatar que um Tinderiano há menos de dois meses casado,estava lá, lépido e faceiro querendo colar com alguém... Ah e ninguém tem nada com isso? Eu acho um desaforo e uma cara de pau!
E como não entender, nos dias de hoje, que alguém diga que tem medo de se envolver?
Quem não confia se apavora, quem confia tem medo, quem tem medo não se envolve, quem se envolve tem medo de confiar...
Tem gente que é capaz de trair só para não ser traído primeiro!
Mas então qual é a parte divertida desse Tinder? É justamente imaginar o que eles querem dizer quando colocam fotos no perfil do aplicativo! Então acionei a minha tecla SAP!
Imagem: Homens ao lado dos seus carros carésimos:
Lê-se: Vejam como eu sou poderoso e tenho dinheiro, mas não sejam interesseiras, ok?!
Imagem: Homens ao lado de um amigo bonito.
Lê-se: Ok?! Eu sou feio, mas eu tenho um amigo bonito, então isso quer dizer...damm!
Imagem: Homens fazendo um esporte radical.
Lê-se: Vejam como eu sou forte, corajoso, jovial ,uahhh!
Imagem: Homens em frente ao computador naquelas fotos de webcan, com a cama desarrumada ao fundo...
Lê-se: Pode parecer que não tive ninguém para tirar essa  foto, mas é só impressão,  viu?! Eu tenho muitos amigos que me acham superlegal!
Imagem: Homens beijando a camiseta do time, com o boné do time... e no estádio, pois  eles amam o time!
Lê-se: Olá, espero que tenham  percebido que o meu time está em primeiro lugar, e não sei bem por que estou aqui ,mas seria essencial que  você torcesse também para o meu time.
Imagem: Homens  que colocam na segunda foto do perfil um  copo gigante de chop.
Lê-se: Olá, eu sou um cara bacana, adoro um bate-papo num barzinho.  Quem sabe tomamos umas hoje, ou ,quem sabe, amanhã?  Conheço lugares ótimos para beber! Ah! Se eu tenho algum problema com bebida? Não, beber é a alegria da minha vida!!
Imagem: Homens  com amigas bonitas
- Olá, meninas! Estão vendo? Eu pego! Estão vendo? Eu pego! Ah! E eu pego as lindas, portanto seria ótimo você ser do meu tipo? Qual tipo? Tipo miss!
Imagem: Homens com suas esposas
Lê-se: Olá ! NÓS queremos dar uma “variadinha”, está a fim?
Ou
Lê-se: Olá, a minha moita está ocupada, mas sempre cabe mais uma! Aliás, minha esposa sabe que eu estou no Tinder, ela não se importa e acha bonitinho eu procurar amiguinhos aqui!
Imagem: Homens que posam com seus cachorros.
- Se não gosta de cachorros, nem vem!
Ou
- Olha só como sou sensível, gosto até de bichos...
Imagem: Homens que colocam figurinhas de desenho animado.
Lê-se: Desculpe, não tive tempo de colocar minha foto, é que eu estava jogando  play  com meus  amigos, mas o principal é dizer que eu nunca esqueço da minha infância, como era bom...
Imagem: Homens que colocam fotografias em locais nevados.
Lê-se: Vejam só como eu sou um homem viajado! Se você não conhece, eu posso lhe explicar o que é essa coisinha branca ali fundo da fotografia...
Imagem: Homens acima de 50 anos ao lado de suas motocicletas gigantes e potentes.
Lê-se: Estão vendo a minha moto? Coisa mais linda! E o que está escrito na minha camiseta, será que deu para entender? “ 61 + me sentindo 16!”.
Imagem: Homens vestidos de noivos (????) com ou sem as noivas (até porque a noiva é detalhe).
Lê-se: Olá, meninas! Vamos ser bem francos, eu sou casado. Estou sendo muito honesto e,aliás, é a minha maior virtude, não sei enganar ninguém!
Imagem: Homens abraçados  seus filhos.
Lê-se: Eu não pretendo ter filhos.
Ou
Só para avisar: “o meu já está pronto”.

Ufa! Essa última imagem foi over, e para mim chega de tecla SAP!
Impressionante o número de homens que repetem a mesma postura na hora de se “vender”.  Os próprios homens ficariam impressionados com o número de participantes do Tinder que aparecem com seus filhos! E o pior, muitas crianças pequenas, demonstrando total falta de noção e desrespeito com um ser humano que não tem nada com isso.
Agora imaginem  uma mulher que está procurando um outro relacionamento e tem filhos. Será que ela acharia atrativo aparecer com suas crianças? Lógico que não! Mulher solteira com filhos sofre preconceito! Desculpa, mas é a verdade!
Mas,  tirando os pais de verdade e orgulhosos de seus filhos, ou aqueles desavisados que nunca leram o Estatuto da Criança e do Adolescente e que não têm noção de que deveriam proteger a imagem dos seus filhos, restam aqueles pais que querem se  “blindar” mostrando seus filhos na hora de buscar um flerte. É impressão minha, ou será que temos mulheres procurando um pai, na hora do flerte?
As águas turbulentas e aquecidas dos nossos oceanos estão ofertando poucas possibilidades de reproduções equânimes no mundo animal. Mas o que dizer das relações entre os homens e as mulheres? Será que estamos virando tartarugas? Nos arrastando, nos atrasando? Ou será que os relacionamentos entre os seres humanos também estão ameaçados de extinção?



quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Fórceps hormonal



Depois de muitos meses vivendo uma revolução hormonal precoce e avassaladora, sinto que agora, posso falar!

Este ano tivemos no Rio Grande do Sul, um inverno rigoroso, mas o meu clima, particularmente, era de verão! Enquanto os hormônios me abatiam, assim como o humor e o sono, a escrita ficou comprometida. Escrever ou não escrever sobre algo tão pessoal?
Resolvi me queimar e botar a mão no fogo, já que o restante estava em chamas! Nunca imaginei que os tais fogachos, sempre descritos por personagens humorísticas, fossem me tirar o fôlego e o humor. 
E o que dizer do que defini como “desorientação climática”? Qualquer pergunta é mais fácil de ser respondida do que informar para alguém como está a  temperatura no dia. Você começa a desconfiar. Principalmente, quando se vê esbaforida, se abanando, enquanto todos olham para você sem entender a sua agonia.
As dúvidas persistem em relação ao clima e o que fazer com o desconforto.  Enquanto isso, o fogo se alastra, invade e ruboriza a qualquer hora do dia. Você não sabe se cospe a sua roupa para fora do corpo ou se finge que nada acontece.  Mas o que está acontecendo? O climatério chegou e, com ele, uma revolução hormonal impressionante.
Mas como viver sem estresse, com o calor do climatério ou da menopausa? Como viver esse o choque térmico contínuo e desgovernado? O que seria mais difícil? O verão dentro do inverno?  Ou o verão dentro do verão?  Eu diria que o nível mais alto de dificuldade, definitivamente, seria o verão dentro das noites de inverno.   
Viver uma noite climática invertida exige fôlego! A mulher sente o frio lá fora e,  iludida, se refugia do frio embaixo das cobertas. Mal sabe ela que possui um aquecedor potente no climatério. O problema é que o aparelho dela será acionado diversas vezes no meio da noite... Ela não vai dormir, é certo! E se ela tiver um parceiro? Pobre do homem que tenta dormir ao lado dela. Ah! Coitado! Se todo esse fogo da mulher fosse um sinal de desejo, alguns homens não se importariam  de não dormir. O problema é que, neste período a baixa da libido pode deixar muitos maridos a ver navios só pegando fogo!
Depois dos 30 anos de idade, qualquer mulher percebe que meia hora perdida de sono acaba com a pele. Agora imagine se ela passar meses sem  dormir  por causa da insônia e dos fogachos noturnos. Se a menopausa é um sinal de envelhecimento dos óvulos, o climatério seria o fórceps do envelhecimento! E depois daquela noite literalmente fritando na cama, ela se olha no espelho e pensa que vai envelhecer antes do tempo! Isso sem falar do dia que vem pela frente, sujeito a chuvas e trovoadas de irritabilidade no decorrer das horas!
Mas a saga feminina, em geral, começa muito mais cedo! É na puberdade que a menina toma consciência das primeiras demandas físicas. Tadinhas! 
Ainda tão meninas, e tendo que encarar a visita ao ginecologista. E a mãe da menina então?  A pobre terá a árdua tarefa de convencer a filha de que é muito normal mostrar suas partes íntimas para alguém que ela nunca viu na vida! Ah! Por favor! Isso não é fácil!  É pedreira! Constrangimento necessário, todos sabemos! Mas dizer que é uma maravilha?  Assim como muitas mulheres ainda tentam fazer de conta que o desconforto feminino é bonitinho?!  
Além de sermos forçadas pelos hormônios a sermos mulheres ainda na puberdade. Vocês já notaram que existe sempre uma outra mulher de plantão querendo convencer uma outra de que “faz parte”, “ser mulher é assim, tão lindo”, “parir um filho, tão lindo, tão fácil”, “menstruação coisa linda, já é uma mocinha”. A mulherada se esforça nessa hora! Elas insistem em querer amenizar o sofrimento das próximas vítimas do corpo feminino!
E vocês já viram quem parabeniza a menina que menstrua pela primeira vez? Em geral, são as mulheres da família que parabenizam? Por que será? Nessas horas, muito me agrada a autenticidade do desconforto de um pai, ficam quietos, apavorados!
Por falar em pavor, notícia ruim vem sempre acompanhada.  Menstruação também! Com ela, uma série de constrangimentos, cuidados, paranoias do tipo, se manchou a calça, a bermuda, se alguém pode ver quando ela levantar da cadeira...  Se a cordinha do “ob” não ficou pendurada quando ela saiu da piscina? E será que o professor vai entender que de tanta cólica ela não conseguiu estudar para a prova de matemática? 
Termina menstruação! Termina TPM!  Ufah!  Mês que vem enfrentamos essa fera novamente!  Realmente, a menina precisa ser muito mulher e muito macho também  para enfrentar tudo o que esse corpo feminino demanda! O corpo muda e a mulher muda!
É claro que, eu não poderia deixar de falar sobre a conhecidíssima TPM.  Por sinal um assunto que é motivo de piada entre as próprias mulheres. Mas sinceramente, não vejo graça nenhuma!  A TPM é muito mais do que alguns dias de irritação ou caprichos femininos.  Esse período envolve aquilo que chamo de “dias nublados”. A vida se acinzenta e pode conduzir a mulher a questionamentos nebulosos. 
Por essa razão, tudo parece mais difícil do que realmente é. Inevitavelmente, o fórceps hormonal impelirá a mulher a pensar naquilo que ela não precisava pensar. Por conta disso, elas pensarão demais  nos seus relacionamentos. Mas nem todos percebem que as mulheres e os homens dividem o mesmo espaço e tempo com os hormônios. Por isso, a previsão do tempo alerta: teremos muitos intempéries pela vida. 
E agora?  Alguém se arrisca a responder como está o tempo lá fora? 

domingo, 29 de setembro de 2013

Chefs da Fórmula 1


Dias de chuva não me abalam, mas a combinação de frio + chuva + final de semana é pra matar!
Então eu resolvi fazer nada, ou melhor, resolvi me distrair com um dos meus passatempos favoritos: ver programas de culinária!
Desde os 12 anos de idade vejo esse tipo de programa. Lá em casa era fatal, 10h10 era a hora de ver “A cozinha maravilhosa da Ofélia”, caneta e papel na mão!
Via de regra, cozinhar é uma atividade que me deixa “zenfeliz”. A expressão poderia ser traduzida pela mescla de sentimentos de felicidade e serenidade.
Acomodei-me na frente da TV e comecei uma maratona de programas de culinária. Mas, ao contrário do que eu esperava, o primeiro programa me deu arritmia. Era com o famoso chef Gordon Ramsay. Eu perdi as contas de quantas receitas e dicas foram dadas em 5 minutos. Pobre dos meus caderninhos de espiral para receitas, é certo que estariam em branco, não fosse o passo-a-passo da saudosa Ofélia.
O chef Gordon tem uma notoriedade indiscutível ao recuperar restaurantes falidos no atendimento, e nisso ele é mestre. Mas quando vai para cozinha, ele reproduz a dinâmica de um restaurante na velocidade de uma corrida de Fórmula 1.
Os ingredientes e as receitas surgiam numa velocidade absurda, acompanhados de um aviso quase reconfortante, “você pode acessar todas as receitas pelo site www...”. Mas se a maioria das pessoas não tem tempo para cozinhar, será que buscarão a receita depois do programa?
E o que dizer das cebolas fatiadas em velocidade máxima? Quem disse que precisa ser daquele jeito para ficar perfeito? Aquele feito e destreza desanimam qualquer iniciante na cozinha. Por essas e outras, resolvi analisar onde essas receitinhas de programa parecem não me agradar o paladar.
Primeiro, que a gastronomia produzida em um restaurante precisa realmente ser a “toque de caixa”, mas em nossos lares são outros quinhentos! Pé no freio, caso contrário, essa curva fechada vai te jogar na brita e nos pneus!
"Ofélia coloca o safety car na pista!".
Verdade tem que ser dita, nem a Ofélia escapava das correrias.  No final do seu programa tinha sempre uma receitinha obrigatória na panela de pressão, por causa do patrocinador. Mas fora esse protocolo, eu não me recordo de vê-la se enlouquecendo fatiando cebolas!
Depois do Gordon The Flash,ufah!  Tomei um fôlego no intervalo de propagandas. E lá veio a linda Nigella, que até diminuiu um pouquinho o ritmo da pista de velocidade. Mas a danadinha sempre  aparece assaltando a geladeira como se fosse bonito?
Eu já estava quase me sentindo mais calma, quando surge um piloto da Fórmula Indy. Jamye Oliver é maluco! Seria a versão Niki Lauda do fogão! Ele realmente desafia as leis de qualquer fermento biológico!  Primeiro ele fazia em 30 minutos um bando de comida, no maior deboche. Agora ele resolveu cozinhar a mesma quantidade de pratos em 15 minutos!
Meus caros, quem gosta de cozinhar, não quer fazer isso em 30 minutos, quem dirá em 15 minutos! E quem tem apenas 15 ou 30 minutos para cozinhar vai comer na rua.
Isso é a espetaculização da gastronomia. Ninguém quer ensinar nada, querem é se exibir!
Tem graça alguém lhe negar uma receita? Ah! Eu me ofendo!
Para resolver tanta receita de fórmula 1, baixei o aplicativo de todas as receitas do canal, assim não fico naquela gastura de querer memorizar tudo!
Jamie Oliver para mim é sinônimo de ejaculação precoce, quando você está começando a gostar, pronto, acabou!
Olivier Anquier é lindo, mas para mim ele é um padeiro mochileiro. Se eu quero pegar uma receita, certamente não será no programa dele, são tantas excentricidades! Eu desafio alguém a achar todos os ingredientes da comida que ele fez na África, China, Paquistão... Bom, mas se eu quiser viajar, eu pego uma carona no programa!
Mas quem seria o meu queridinho da hora? Por incrível que pareça quem tem me surpreendido na cozinha é o Rodrigo Hilbert. A primeira vez que eu assisti ao progama dele, subestimei o rapaz. Pensei que era um daqueles programas de culinária masculina, tipo comidão bastantão!
Há muito tempo eu não me deparava com alguém que respeitasse os limites de velocidade na cozinha! O Hilbert é um cozinheiro que dá ao seu programa o tempo e a consistência certa! As receitas vão parecer simples. Porém, de mansinho, ele vai mostrando conhecimento e, sobretudo, paixão pela gastronomia!
Adoro cozinheiro que deseja ensinar. E quando não me importo de aprender o que eu já sei? Ah! Aí Eu fico zenfeliz! Feito criança assistindo à Ofélia!





                                                                                                                                            


sábado, 31 de agosto de 2013

Pré-requisito para a liberdade

Que orgulho eu sinto da minha cidade, quando vejo as bicicletas laranjinhas humanizando o trânsito de um lado a outro. As ciclovias pareciam um sonho inalcançável, mas, de grão em grão,  as vias pintadas de vermelho vão nos  enchendo de satisfação.

Porém, este sonho que se avizinha exige bom senso e ótimos itens de segurança. Atuando  como perita do trânsito há mais 15 anos, tenho lá minhas convicções. Uma delas é de que a CNH de carros deveria ser pré-requisito para a carteira de motocicletas. O motivo? Eu chamo de “ princípio da empatia”. Imprescindível, além do estudo teórico, ele deveria compreender na prática como o motorista percebe o motociclista.
Outra convicção defendida por mim é de que o conhecimento prévio das vias urbanas  contribui à segurança do ciclista. Para tanto, eu arriscaria dizer que o ciclista que é motorista teria menos risco de acidentes.

Mas ser ciclista seria um pré-requisito desejável para quem quer dirigir uma moto?
Esse pré-requisito eu não defendo nem por decreto. Outro dia um senhor de uns 60 anos e lá vai pico queria obter sua primeira carteira de moto. Eu questionei se não seria arriscado, e ele foi explicando que já andava de bicicleta há anos!
Olhei incrédula para ele e sapequei no automático, “o senhor tem noção de que não é só uma questão de equilíbrio?”. Ele ia me interromper, mas eu continuei “e mais, o senhor já imaginou uma moto cair em cima da sua perna? É bem diferente de uma bicicleta, não?”. Ele concordou com preocupação. “E  tem mais uma coisinha, uma fratura na sua idade terá uma repercussão na sua vida diferentemente, se isso ocorresse com um jovem”.
Depois de todo esse discurso, ele retrucou, “doutora, a senhora pode ficar tranqüila que eu vou me cuidar”. Naquele momento, comecei acreditar que otimismo é  o pré-requisito da teimosia!
Mas quem sou eu para falar da teimosia?
Aos 16 anos de idade, meu pai me ofertou uma bike nova. Ele foi categórico, se eu quisesse a bike teria que pegá-la no centro da cidade e levar até a minha casa, uns 13 km. Minha mãe queria me matar quando eu disse que topava. Peguei a magrela meio desajeitada, ali na Dr. Flores, ladeira acima, lá me fui para a aventura.
Pela primeira vez senti as reais distâncias da cidade, era como se o trânsito fosse o pátio da minha casa. Eu tinha muitos  kms pela frente, mas era como se tudo fosse mais perto!  Quando eu me lembrei dessa história,  a minha mãe comentou  “aquele dia tu quase me matou de preocupação”. Realmente, naquela época era muita distância para uma menina andar sozinha de bicicleta.
A primeira aventura de bike a gente até pode esquecer, mas o primeiro equilíbrio e o primeiro tombo são inesquecíveis!
O primeiro equilíbrio foi numa Caloi azulzinha. Friozinho na barriga, mágica em duas rodas! Guidão frenético, eu adorando! Mas só pensando em me escorar no primeiro muro.
A minha rua era uma vitrine, pois todos ficavam brincando até tarde. Por essa razão, todos sabiam quem estava no domínio de sua bike. Então não é de se admirar que alguém tenha visto o meu tombo memorável...
O pequeno acidente foi um grande dilema. Ou eu acertava a avó de uns vizinhos, ou eu acertava uma árvore. A vovó magrinha, pernas finas e trêmulas, mais parecia eu iniciando as minhas primeiras pedaladas hesitantes. Ela ia ziguezagueando bem à minha frente na calçada. Eu era  iniciante em equilíbrio e vidência!
Arrisquei. Mas a vovozinha me surpreendeu com uma manobra. Não deu outra, dei de cara na árvore, arranquei galho, esfolei os joelhos, parei no meio da rua, escabelada e muda. Olhei para os lados, procurando um alcoviteiro de plantão, olhei para trás e suspirei aliviada ao ver a vovó andando sem ter percebido nada!

Mas os melhores tombos eram promovidos pelos meninos!
Derrapar no areão de um lado a outro da rua exigia destreza e domínio. Naquele dia, um menino que tinha uma bicicleta Yamaha, resolveu se arriscar pela primeira vez. Mas ele não tinha vocação para aquilo, deu um cavalinho de pau de levantar poeira na rua e, coitado, se estrebuchou no chão. Enquanto a gente via ele se recompor, a mãe dele, enfezada, ameaçava surrá-lo pela feita vexatória e arriscada!  

Semana passada alguém teve o atrevimento de me ofertar uma grana pela minha bike! Como assim? Que desaforo! Essa pessoa não sabe que a minha bike é sagrada?
Pela ofensa a mim e a minha bike querida, resolvi dar um upgrade na magrela, pensei em personalizá-la com a minha arte! Cada pincelada de azul cobalto me fez relembrar de todas essas histórias e conclui que as bicicletas sempre foram emblemáticas na minha vida.

Ao ver a bicicleta renovada, me deparei com a promessa de novas pedaladas. Naquele momento compreendi  que ser ciclista é um bom pré-requisito para o exercício da liberdade!

quarta-feira, 31 de julho de 2013

Felicidade sobrenatural


Início da noite de segunda, último grupo de avaliação para obtenção de CNH. Eu organizava alguns papéis para a última testagem,  todos na sala cansados assim como eu.
Olhei para o grupo e fui contando um, dois,  três... ops, um sorriso?
Seis pessoas e um sorriso!  Mas o que um sorriso fazia ali, naquela hora?

Aproximei-me daquele homem de aproximadamente 35 anos de idade, e percebi que, além do surpreendente sorriso, ele apresentava uma deformidade congênita nas mãos.

Questionei-o sobre suas possíveis limitações diante dos desafios que eu iria impor-lhe. Ele respondeu-me dizendo “não, que não haveria qualquer problema em realizar os testes”.
Decidi então preencher a entrevista para ele, afinal eu queria poupar-lhe o esforço das mãos.
Terminamos os testes, e ele continuava com os olhos vibrantes, sorriso pleno e inundando-me de uma felicidade sobrenatural.

Apesar do meu cansaço físico, a minha mente insistia em querer pesquisar aquele ser que desafiava o adiantado da hora e as nossas limitações físicas. 

Comecei a entrevista. Por favor, me diga qual a sua principal característica? E ele respondeu, “ser feliz ”. A resposta me arrebatou! O sorriso dele mais parecia um rolo de tinta tingindo a sala e a mim. Diante daquela afirmação, suspirei e lhe devolvi um sorriso de admiração.

Naquele instante, morri de vontade de ligar para alguns pessimistas de plantão e outros tantos chorões de barriga cheia!
Inadvertidamente, eu queria mostrar-lhes um ser humano, como se fosse um animal em extinção!

Meu sorriso ainda admirava aquele ser que, para o meu deleite, justificou a sua resposta,“Como eu não poderia ser feliz? Apesar das minhas dificuldades, fiz uma faculdade, passei em um concurso, sou professor de matemática e minhas últimas cirurgias nas mãos foram um sucesso! E agora estou aqui, fazendo minha carteira de habilitação.”.

Qualquer pessoa otimista diria que o professor de matemática soube fazer a melhor conta da sua vida.  Até porque todo otimista sabe fazer a conta justa de suas vitórias!

Nesse mês viajei para Colômbia, e uma das primeiras surpresas foi encontrar no hall de entrada do hotel, em Bogotá, um imenso e deslumbrante arranjo de flores. Ao ver aquela imagem estupenda no tamanho e nas cores, me aproximei do arranjo. Olhei para os lados para que ninguém percebesse e toquei nas flores desconfiando que pudessem ser artificiais. Surpresa! Eram flores naturais!

Em Cartagena conhecemos Pablo. Ele nasceu em Medellín. Em Medellín? Sim! Disse ele, “e sabem que lá nós temos uma tradição?”.Eu e meus amigos só poderíamos  dizer que conhecíamos  uma tradição, a do  “Cartel de Medellín”.Pablo sorriu, balançando a cabeça, sabendo da fama da cidade. Ele então, pegou o seu celular e se empenhou em nos mostrar as imagens da tradicional festa da cidade e a sua versão colorida da cidade de Medellín.

Medellín é conhecida como a “Cidade da eterna primavera”. Em agosto, a cidade é inundada de arranjos de flores, sendo que o evento mais representativo da Feira é, sem dúvida alguma, o Desfile dos Silleteros, onde camponeses percorrem grandes distâncias carregando lindos e pesados arranjos em suas costas.

Pablo nos mostrou uma Medellín linda e festiva.  Mas nem por isso deixou de referir algo, que nem recordo agora sobre a tão afamada rede de traficantes de drogas. Ele também poderia ter falado um pouco mais da vida difícil que leva, dos desafios na vida pessoal e do trabalho que desenvolve em regiões de extrema pobreza.

No entanto, Pablo preferiu nos mostrar o seu sorriso. Assim como o professor de matemática, parece que ele resolveu fazer a conta de suas vitórias!

O arranjo de flores naturais no hall do hotel, em Bogotá, parece ser a metáfora perfeita para descrever uma parte de nós diante de uma felicidade que parece sobrenatural.  Essa parte, hesita e  desconfia.  Escolhe o que vê, e inevitavelmente enxerga o lado artificial das coisas.
Não é de se admirar que alguns prefiram não se aproximar...
Pablo e o professor de matemática parecem ter optado pelo toque e, ao tocarem, se preencheram de cores.

Sorte daquele não que se assusta com as cores, como toque e o sobrenatural!



















segunda-feira, 15 de julho de 2013

Dia 20 de julho (sábado) 18h - SARAU MUSICAL NA PALAVRARIA

"Brincar com as palavras, trocar frases, revirar sentidos, sem dúvida, são maneiras de expressar a necessidade de inverter. É muitas vezes o olhar invertido que mostra o por trás do visível. Inverter a lógica é revirar a blusa e mostrar a etiqueta de quem não enxerga que pode muito mais do que está sendo". 


É dessa maneira que a autora apresenta a proposta do seu  livro de crônicas,  Lógicas Invertidas. Segundo a cronista," inverter para se reinventar"  é sobretudo ser flexível . Inverter a lógica é abrir, receber, ampliar, desejar... 

O Sarau proposto pela cronista,  apresentará um formato dinâmico e descontraído, contando com a leitura das crônicas mais "curtidas" pelos leitores. E a música se misturará dentro dessa lógica invertida que será apresentada pelos músicos, Robson Serafini (violão) e Fernando Cassiano (voz),  


Promoção do Sarau:  Livro Lógicas Invertidas com 20% de desconto.

Venha conferir! 


domingo, 30 de junho de 2013

Clicks e rasgos de amor





Que saudades daquele tempo em que rasgávamos cartas de amor, fotografias de beijos, olhares e afagos... 
Saudades da amizade que tínhamos com o tempo, que apagava as imagens e dissipava as dores de amor...
Mas se raramente imprimimos  fotografias, e o  Facebook banalizou as nossas imagens, como daremos um fim digno ao amor? O que pensar dos amores líquidos eternizados em imagens instantâneas e velados em sofrimentos voyeristas intermináveis? Verdade seja dita, as fotos de um relacionamento eternizam um amor que há muito tempo já vem se subtraindo em nossos arquivos de imagens. Primeiro um arquivo de muitas fotos, imagens que não se cansam de registrar: o beijo e  os olhares, e um click para cada suspiro. Nos últimos anos de relacionamento, a máquina cansa, e as imagens se findam. Imagens que se perdem antes do rasgo, antes do excluir, antes de ir para lixeira...
Pesquisando sobre o luto, fui surpreendida com um link de perguntas freqüentes sobre o luto judaico. Uma das perguntas: por que se costuma rasgar a roupa da pessoa enlutada? Resposta: essa era a maneira de alguns judeus  expressarem a dor e a angústia  pela perda de seus entes queridos.
Acho que as dores de amor atualmente estão mais para a vontade de rasgar a roupa do outro em sinal de protesto pelo não-amor do que lambermos as nossas feridas na reclusão de um status off-line. Sim, meus caros, a verdade é nua e crua, não temos fotos para rasgar!
Continuei curiosa com aquele link sobre o luto judaico e li que, em sinal de luto, os espelhos dos enlutados devem ser cobertos, pois a vaidade é sentimento que diverge do espírito de luto.
Penso que é divergente, mas o luto amoroso, em tempos de virtualidade, prima exatamente pela vaidade. A expressão “dar a volta por cima”, na verdade, é sinônimo inequívoco dos espelhos voltados para si e especialmente para o outro.
Segundo o link, os judeus enlutados devem aparentar um abandono de si mesmos e a busca de um isolamento para elaboração de seus lutos. É claro que o texto tratava do luto pela perda de um ente querido, mas eu continuava imaginando tudo isso no luto amoroso. Afinal, quantas pessoas morrem sem ter morrido, e quantas nos matam sem termos percebido?
Como alguém se isolaria hoje? De que maneira? Se a própria pessoa engendra tramas patéticas, do tipo, excluiu a fulaninha, mas depois blá, blá! Ressuscita o morto com um click.
E quando a inveja se apodera da cena e faz da alegria do outro o pior castigo? Bobagem! As aparências enganam mais do que em qualquer outro tempo. Nessa vida virtual, aparentar meias alegrias e inventar um novo amor sem nunca ter amado, é muito fácil!  Quem sabe quantas vezes um dia você também inventou? E agora não percebe que essa vitrine é responsabilidade sua?
E quantas vezes você vai excluir, bloquear, adicionar, excluir, bloquear? Quantas? Talvez até que um novo amor surja, não é mesmo?
 O luto amoroso na virtualidade se transformou em massacre ruminativo  e invasivo! 
Nos últimos tempos tenho assistido  a amores esfolados por uma tela de imagens e frases que deveriam ser mais verdadeira. A imagem deveria  se desculpar, deveria se recolher, deveria se rasgar, quebrar espelhos e suprimir o deboche e a gritaria.  Afinal de contas um velório se dá no silêncio e na quietude.
Certa vez li um artigo que versava sobre a importância de rasgarmos fotografias para elaborarmos lutos de amor. Rasgar seria como assassinar o amor e tentar ocultar o cadáver. Seria como matar mil vezes, rasgar sem poder voltar atrás, sem poder colar, sem poder adicionar, ou bloquear, ou excluir.  Seria como apertar o verde da urna e dizer: confirmo que te excluo, hoje, aqui, agora, o meu voto é nulo! O meu voto é em branco, pronto para uma nova impressão!


terça-feira, 11 de junho de 2013

A Bolsa e o Carteiro


Há alguns anos, olhando uma vitrine de uma loja masculina, encontrei uma bolsa do estilo carteiro. Achei que poderia ser um ótimo presente para um amigo que estava prestes a fazer aniversário. A bolsa era de couro, daquelas bem classudas! Imaginei que não teria erro, ele ia adorar.

Mas ele não gostou do presente, e o pior, ainda teceu o seguinte comentário: - “ Como se chama mesmo essa bolsa? ”. E eu, bem tonta ainda respondi: - Bolsa estilo carteiro!

Realmente a cara do meu amigo não foi de satisfação.

Fiquei frustrada, mas depois de alguns dias, sugeri a ele que trocasse a bolsa por algo de seu gosto. Ele aceitou feliz da vida, e ainda desabafou: “Sabe o que é? É que essa bolsa de carteiro não tem nada a ver comigo, entende?” .

Para minha surpresa, percebi que o problema dele não era com a bolsa, e sim ele ser confundido com um carteiro! Sim, este era o seu problema, então resolvi enfiar a minha viola naquela bolsa e parei de ficar me debatendo por não ter agradado.

Recordei-me dessa história ao ver um homem muito elegante atravessando a rua com uma bolsa de estilo carteiro. Nem sei o que era mais lindo, se a bolsa, o homem, ou homem usando a bolsa... a sinaleira abriu e segui meu caminho, foi quando me lembrei do pai da Elis, o Seu Dilson...

O Seu Dilson é carteiro aposentado, homem de presença marcante e extrovertida. A Elis, quando menciona o pai em nossas conversa, conta que ele atuou durante 40 anos nos Correios, sendo boa parte destes anos perambulando nas ruas do bairro Menino Deus.

Vez por outra, encontro o Seu Dilson nas festas que a Elis organiza para os familiares. O pai da Elis “chega chegando”. E não poderia ser diferente, ele tem 2 metros de altura, olhar cativante e sempre exibindo a singular bolsa a tiracolo que lembra...

Sim, lembra uma bolsa de carteiro!

Numa dessas festividades, fiquei pensando se aquela bolsa não poderia ser um vício da profissão, como se fosse uma espécie de bolsa-medalha. Até pode ser verdade, a Elis sempre conta que o pai foi inúmeras vezes homenageado pelos Correios pelo exemplo e distinção no desempenho de seu ofício.

Mas será que tantas ilações acerca da bolsa do Seu Dilson não poderiam ter um “fundo falso”? Será que ele realmente teria tanto orgulho da profissão desempenhada, que relutava em desapegar-se daquele acessório emblemático?

Creio que sim, mas é certo que o buraco dessa bolsa ainda poderia ser mais fundo. Quem diria que no fundo dessa bolsa encontraríamos uma parte da Persona? Eu explico, a Persona é a forma pela qual nos apresentamos ao mundo, inclusive através de símbolos que representam o nosso papel ocupacional.

Pensando bem, não é de se admirar que a bolsa carteiro seja como uma extensão do corpo de Seu Dilson, afinal de contas foram 40 anos de parceria!

Porém, mesmo a versão estilizada de uma bolsa carteiro, parecia descaracterizar o meu amigo, justamente pelo fato de que ambos se orgulhavam de suas profissões.

Carl Jung ainda afirmava em sua teoria que a Persona pode ser um elemento positivo, mas quando se apresenta de maneira dominante e negativa, o indivíduo se percebe apenas nos termos superficiais de seus papéis sociais.

Semana passada, acho que tomei um carteiraço de uma Persona. Ele era um ex-colega de aula. Mal ele me viu, saiu dizendo “Eu sou o coordenador tal, de tal Secretaria, de tal coisa, blá, blá, blá”. Fiquei perplexa com a apresentação por achar aquela formalidade totalmente desnecessária.

A Persona havia me atropelado! Alguém anotou a placa? Fiquei pensando se aquilo tudo era vaidade extrema ou seria orgulho da atividade, a exemplo do Seu Dilson com a sua bolsinha, a indefectível, à tiracolo.

Atire a primeira pedra quem nunca se apresentou com máscara da Persona? Será que não estaríamos mais preocupados em mostrar o que fazemos ao invés de mostrarmos ao outro o que realmente somos? Tantas pessoas preocupadas em se definir, enquanto outras se revelam sem perceber! Muitos carteiros e poucas cartas abertas!


domingo, 19 de maio de 2013

Mandrake na carência!



Tem conversa, nessa vida, que faz eu me sentir uma criança...

É como se eu voltasse ao tempo daquelas brincadeiras da infância. É isso mesmo! Muitas pessoas, bem adultas, ainda brincam comigo de “Mandrake” e “Vaca amarela”.

A brincadeira de Mandrake consistia em paralisar o adversário. Caso ele não estivesse protegido com a mão na testa, alguém que o encontrasse desprevenido poderia dizer: Mandrake! O comando indicava que você deveria ficar em posição de estátua até ser liberado.

A brincadeira da Vaca Amarela era para testar a capacidade das crianças de ficarem em silêncio absoluto. A brincadeira era iniciada com uma música cantada por um dos participantes, e era mais ou menos assim: "vaca amarela fez cocô na panela, três a mexer, quatro a comer, quem falar primeiro come tudo o que a vaca fez..." Depois que a música era cantada, todos silenciavam até o primeiro não se aguentar e falar.

Quando eu não sei o que dizer, nem o que fazer diante de algumas afirmações, é como se eu estivesse revivendo essas brincadeiras! Isso ocorre quando, por exemplo, alguém afirma que é refém da carência afetiva. Me sinto dispensada da conversa, pois não consigo emitir nenhuma reação, paraliso em Mandrake ou fico muda como na Vaca Amarela!

Além disso, dá vontade de sumir também! Nessas situações, acho que eu adoraria ter os poderes de Leon Mandrake, o reconhecido ilusionista da década de 30 que inspirou histórias em quadrinhos e mais tarde a brincadeira.

Na década de 70, o Mandrake era uma das nossas brincadeiras preferidas, mesmo paralisados de maneira inusitada, nós nos divertíamos muito. A brincadeira se perdeu nas ruas pela imposição da violência e dos jogos virtuais, ao contrário do nosso carente que se moderniza cada vez mais.

O carente se diz romântico, refém do amor, ele não se considera deprimido, muito menos obcecado, mas a mim, ele parece muitas vezes como uma criança. Mesmo em estado de Mandrake, eu sinto vontade de reagir dizendo: “Você está carentezinho? Quer uma mamadeira? Ou será que serve um bico?”.

Ah! Esqueci! Não posso falar! Senão terei que comer tudo que está na panela! Ah! Maldita vaca amarela! Três a mexer, quatro a comer...

Mas quem acaba comendo tudo na panela é o tipo mais grave de carente. É aquele que justifica a comilança masoquista, porque é deveras carente. Me deu vontade agora de devolver um “Mandrake” nesse sujeitinho! Não quero fazer a apologia da solteirice bem resolvida, mas se alguém tolera sofrimento numa relação por estar acorrentado à carência... Duplo Mandrake nele!

Deixando um pouco a infância de lado, voltemos ao mundo adulto. Por favor, Senhor Houaiss, explique-nos o que é a carência?

Carência significa falta de algo necessário, privação. Ex: alimento. Derivação: sentido figurado. Necessidade afetiva: carência de amor.

Sentido figurado... Perceberam o ilusionista Leon Mandrake atuando?

Nesse ponto, alguém pode estar ainda pensando: “Mas eu tenho direito de sentir carência...”.

Dai-me paciência, Senhor!

Direito de sentir? Foi isso que você protestou? Sim, é claro que você tem esse direito! Aliás, você tem o direito de sentir o que quiser, até uma dor onde não existe, sabia?

A carência afetiva em excesso é, na minha opinião, um sentimento que tira as rédeas da mão do vivente! Quando afirmamos para alguém, ou para nós mesmos, que estamos carentes, é como se disséssemos: “eu não sou responsável”, “eu sou vítima”, “eu tenho azar”. E mais: “deixa esse cavalo corcovear, que eu quero mais é me estatelar no chão!”.

“Ai! Cláudiaaaa, mas eu queria tanto alguém que me desse o que eu preciso...”.

Lá vem o carentezinho de novo! Vaca amarela! Esqueceu a brincadeira?

Ok! Eu vou insistir, bebezãaaaooo! Ninguém tem obrigação de te dar algo que VOCÊ não tem. Compreendeu? Agora me diga, o que você quer é suprir carência de afeto, amor, carinho? Então você quer me dizer que não tem nada disso em você? É isso mesmo?Você acha que não tem!

Começou a ficar envergonhado? Ok! Reservei a melhor parte para o final...

Meu querido carentezinho, você tem certeza de que ainda quer do outro o que VOCÊ não tem? E aiiiiiinda está se achando no direito de se sentir carente?

Eiii! Leon? Dá um Mandrake nesse carente por mim! Fuiii!











quarta-feira, 15 de maio de 2013

Programa Livro Aberto entrevista Juremir Machado

Olá amigos, compartilho aqui, o registro da entrevista cedida ao Programa Livro Aberto da Unitv, canal 15 da Net, exibido em 13/05/2013.
A conversa informal contou com vários temas abordados por mim no livro Lógicas Invertidas.
Foi uma conversa muito legal conduzida por Juremir Machado, que teve a sensibilidade e maestria ao abordar assuntos instigantes e sobretudo, de interesse do público em geral.
Foi uma honra compartilhar tantas ideias com um escritor e colunista tão admirável.
Mais uma vez, obrigada Juremir!
Quem quiser ver a entrevista:
Parte 1: http://youtu.be/kHyIXc-THSQ
Parte 2: http://youtu.be/2CoPlb8TIfE 

sexta-feira, 10 de maio de 2013

Pênis


O complexo de Édipo é um dos primeiros conceitos estudados no curso de Psicologia. Na minha época de estudante, até um leigo saberia explicar esse conceito, seria um “beabazinho” da psicanálise, mas que aqui vou tentar aprofundar.

O estudo do desenvolvimento psicossexual aponta a fase fálica como pano de fundo para a soberania do falo. Depois que o conceito é inserido, nunca mais esquecemos do falo... Ainda mais quando nos dizem que invejamos não ter um. Mesmo que num nível inconsciente essa ideia tenha sido vista com estranheza... Invejar o pênis? Logo o pênis? Com tanta coisa para invejarmos no homem, logo o pênis? Pior que não tinha como não pensar no Freud, eca! O pênis, o Freud, o pênis do Freud?!

Assim como um pênis que não agrada a maioria das mulheres em sua primeira aparição, o conceito da tal inveja, não me agradou. Convenhamos, um pênis é quase um palavrão, é coisa que se projeta, e diria até que é quase um insulto a uma menina que inicia a vida sexual. O contraste da feiura do pênis é maior ainda quando o namoradinho é bonito, você não consegue administrar, o cérebro leva um tempo para acomodar a imagem!
Mas como tudo na vida, a gente se acostuma com a cara do pênis. Ou melhor, a gente se conforma com a feiura do bichinho, como dizia o ditado: quem ama o feio, bonito lhe parece, e no final, o que vale não é a aparência e sim a utilidade!
Eu sinceramente não gostaria de ter toda essa responsabilidade. Qual? A de ter um pênis ereto a toda prova, ou prestes a cair a qualquer momento! O futuro decadente e inequívoco de um pênis viciado em pílulas blue não me convence!
E como lidar com o pênis que insurge à revelia de seu corpo? Assim como um rabo de gato? Sabe como é? Aquele gatinho olha você com meiguice, mas que sacode o rabo como se chicoteasse no ar. Você pensa, esse bichano vai me aprontar! O rabo de um gato é feito bicho acoplado, como um pênis acoplado no homem parecendo ter vida própria!
Outra razão para eu não invejar o pênis é ficar à mercê da loteria peniana! Já pensou eu ter o azar de ter um pênis pequeno? Neste caso, só será “sorte no azar” se o tamanho não fizer diferença mesmo!
Mas digamos que eu precise de tamanho, eu ia querer no mínimo um mediano e proporcional. Neste momento você pode estar com dúvidas se o “seu” é pequeno...

Sugiro um teste rápido e infalível. Você tem vergonha do seu pênis na hora “H”? Sim?

Então é pequeno!

Ah, você não sabe? Sabe sim, todos sabem! Nesta hora não existe tamanho de ego masculino que compense. Vai me dizer que o cara entra no estádio de futebol com uma bola de golfe achando que vai bater um bolão? Vai nada! Quem tem pequeno sabe, por consequência , tem uma autoestima muito fragilizada! Muitos vão ficar de cambista bem longe do estádio tentando vender seu ingresso!
Mas voltando ao assunto do topo, se eu suspeitasse que Deus me daria um pênis pequeno certamente eu tentaria negociar: “ Já que o senhor vai me dar esse opcionalzinho, será que daria para mudar o conjunto da obra ? Não rola um corpinho feminino?
Continuo me imaginando com um pênis pequeno, achei punk! E mais associações me ocorreram neste exercício de solidariade aos pequenos.
Imaginei ter que passar a vida inteira pensando naquela maldita frase pra boi dormir :“ mais vale um pequeno brincalhão...” Brincalhão?! Tá maluco? Quem é que brinca com assunto desses? Todo mundo brinca, essa que é a verdade!
Certamente se eu tivesse um pênis pequeno, eu brincaria só se fosse para distrair as meninas. Buscaria recursos compensatórios para agradar a parceira. Na primeira noite com uma mulher, eu levaria mil anos nas preliminares para ganhar tempo, confiança, gratidão, compreensão, ai! Compreensão? A minha cueca deveria conter a seguinte inscrição: “Desculpa aí, mas é só o que a casa tem para oferecer! “
E o que dizer da convivência com os homens com seus pênis médios e grandes? Ah, como eu saberia? Eu saberia, compararia, qualquer um sabe fazer isso. E como seria na hora das piadinhas de chinês? E eu ali, bem brasileirinho com o meu tiquinho.
E a solidão da pequenez? Se eu tivesse um pênis pequeno, além de ter baixa autoestima, eu teria poucos amigos para compartilhar minha condição e meu conflito.

Um dia, mesmo tendo um pênis pequeno, eu ficaria feliz ao ler que a profundidade da vagina de uma mulher é de aproximadamente 7 a 10cm. Imediatamente eu pensaria “dá e sobra”.
Mas na outra semana, eu poderia encontrar um outro artigo sobre o mesmo assunto, afirmando: “ Elas admitem! Tamanho é documento! “

Ferrou!

quarta-feira, 17 de abril de 2013

Displicência gastronômica



Hoje foi um daqueles dias estranhos de outono em que você se sente em total descompasso com o clima. Uma imagem que traduz claramente esta época é ver modo como as pessoas se vestem: umas de verão, outras de inverno, e nenhuma de outono!


Devido ao tempo variável, é bem comum eu passar o dia inteiro ligando e desligando o ar condicionado do consultório. Numa dessas tardes de outono, fui a um local perto do trabalho, a fim de beber algo para me refrescar. Acabei optando por um café, já que a tarde caía e o friozinho já se prenunciava.

Pedi o de sempre: um carioca duplo, e complementei: – Ah, e me vê um pão de queijo também. Não, moça, talvez dois?! Não moça, hum... Um! Somente um pãozinho!

Ufa! Nessas horas eu preciso me lembrar que a distância entre a barriga e o cérebro é sempre maior do que a distância entre o olho e a barriga!

Sentei-me para aguardar o meu pedido e percebi uma moça na outra mesa lendo uma revista. O pedido dela chegou primeiro e foi inevitável não reparar. A moça era bem magra, e o pedido era bem gordo: uma torta com mais ou menos um metro de altura de chantilly e generosas raspas de chocolate por cima! Fiquei sem fôlego! Para arrematar a cena: um cappuccino com chantilly!!??? Eu diria que a cena era um exagero no quesito chantilly, é claro! Ou melhor, a cena era um desaforo comigo!

Eu me achando uma criminosa por ter cogitado comer o segundo pão de queijo, e a mocinha ali, afogada num oceano de chantilly e sem pedir ajuda a ninguém! Que disparate!

Então, eis que surge, do nada, um senhor bem arredondado em sua forma física. Ele também me chamou a atenção. O tal se esgueirou no balcão e falou bem alto: “um pão de queijo, por favor!” . Não satisfeito em ter chamado a atenção de todos com o seu vozeirão, ele assume o papel de “flanelinha” e começa a direcionar a atendente para o seu alvo dizendo: “ Não, não, moça! Mais pra lá! Não, não, aquele ali! Sim, isso! Exato! Eu quero o maior!”.

Coisa mais linda esse povo! A magra lambuzada de chantilly, e o gordinho despachado querendo o maior pão de queijo da paróquia! Bando de desavergonhados!

Resolvi me concentrar no meu café e naquele pão de queijo maravilhoso, e ainda pensando se eu deveria, ou não, pedir o meu segundo pão de queijo!

A mocinha à minha frenteagora lambia as colherinhas da torta e do cappuccino! Cara de pauuu!! E além de me humilhar com todo aquele chantilly, a moça ainda demonstrava o que eu denominei de displicência gastronômica. Ou seja, ela não dava a mínima para o que comia e bebia, o conteúdo da revista era o que lhe interessava! Como assim?

Minha vontade era de arrancar-lhe a revista e dizer: - Mocinhaaaa, mais respeito com o chantilly! Tanta gente precisando de chantilly e não podendo comer! Se a senhorita não tiver consideração com os clientes dos cafés simples, eu vou ter que pedir que se retire do estabelecimento!!



Eu já estava quase acabando o meu café, quando surge novamente aquele senhor do vozeirão, partindo para o segundo round de pão de queijo. Ufa! Ainda bem que eu não pedi o segundo pão de queijo, com certeza iria me sentir com uns 70 quilos a mais! O mais gozado foi ver o flash back da cena: - Moça, aquele! Sim, aquele! O maior!

Ao me deparar com aquelas cenas, lembrei de outra cena injusta comigo! Mas essa cena não era do outono, foi num verão em Florianópolis.

O cenário era assim: sol, mar, beira da praia e uma moça de biquíni tomando banho de sol, sem uma “preguinha” nas laterais e comendo batatas fritas!! Batatas fritas? Mas é muito desplante! Esta era outra cena em que eu adoraria ter dito: - Queridaaaaa! Você conhece alguma praia deserta por aqui??? É o seguinte, pega as tuas batatinhase vai comer por lá, entendeuuu?? Aqui nessa praia só é permitido o consumo de peixinho gratinado e folhinhas verdes!! Ok???

Invejar as pessoas que podem comer sem culpaou que não estão nem aí com a saúde é de última categoria, eu sei, eu sei! Mas eu invejo! Ah! Mas quem dera se eu pudesse entrar no corpo do gordinho e comer o segundo pão de queijo sem culpa?! Ah! Se eu pudesse entrar no corpo da moça e comer chantilly com total desapego! E a mocinha da praia? Ah! Que delírio! Biquíni, zero de celulite, batatas gordurentas ao sol! Ah! E a saúde? Poderia ser do tamanho do pãozinho de queijo... a maior saúde por favor!! E o corpinho? Bemmm magro!!



quarta-feira, 20 de março de 2013

Você faz sacolas?

Lá estávamos, eu e a Denise, meditando na fila de um supermercado no Rio de Janeiro. Meditando? Sim, realmente era quase como meditar. Nós duas olhávamos fixamente a placa que indicava “saída”! Nossa postura nada ereta e de total aceitação. Ambas cansadas de uma tarde de folia no carnaval carioca, e obrigadas a fazer umas comprinhas básicas para repor as energias.


O supermercado mantinha a maioria das caixas operadoras em dupla atividade: registrando e empacotando produtos. E aí já viu! Era melhor entrarmos no clima do carnaval, e relaxar!

Eis que, de repente ,o senhor a minha frente me olha sorrindo e pergunta: - Será que você poderia empurrar o meu carrinho enquanto eu vou lá fazer sacolas? Escutei mas não compreendi a expressão: “fazer sacolas”... Provavelmente minha cara interrogativa, obrigando-lhe uma explicação: - Vou fazendo as sacolas e assim a fila anda mais rápido, entendeu?

Concordei, mas continuava sem entender e pensando bem  acho que eu ainda resistia àquela ideia... A Denise distraía-se com umas revistas e percebendo que algo havia acontecido, questionou-me: - O que ele queria prima? Eu repeti a expressão: - Ele foi fazer sacolas... A Denise não entendeu, continuamos curiosas e vimos que o senhor já estava ao lado do caixa separando sacolas. A expressão “fazer sacolas” significava colocar as compras dos clientes nas sacolas. Ao constatarmos a intenção daquele sujeito ficamos comovidas...  As sacolas não eram as ecológicas, mas eram sacolas de pura solidariedade e despojamento daquele senhor.

Nossos olhos infelizmente não assimilavam a cena, por reconhecerem aquela atitude tão valorosa e tão em desuso nossos dias. Imediatamente nos enchemos de admiração por aquele desconhecido. A minha vontade era realmente roubar-lhe a cena e me apropriar de tudo aquilo! Eu precisava fazer algo... nós precisávamos fazer algo!

- Eu vou lá prima! Vai empurrando o carrinho dele!

E lá se foi a Denise solidarizar-se por nós. A partir daquele momento, o tempo não se arrastava mais, porém a fila de conjecturas irrompia dentro de mim. Lembrei de algumas situações desagradáveis que vivi em filas de supermercados, e das inúmeras vezes que fui questionada pela caixa operadora: - Encontrou tudo o que você queria? E eu sempre respondia ironicamente: - Não encontrei a paciência, minha querida, será que está em falta?

Realmente é sempre mais fácil optarmos por resmungar diante de uma fila morosa. Sem falar do risco que um ato gentil ou despojado pode desencadear em beneficio alheio! Não entendeu? Ah! É isso mesmo! Atire a primeira pedra quem nunca pensou que era melhor não fazer nada, pois seu esforço poderia beneficiar outra pessoa. Ah! E tudo isso para não parecermos otários ou ingênuos. Melhor então é tangenciarmos e culparmos: o sistema, o dono da bodega, a economia, etc, etc.

Fila de umbigos! Bloco de autocentrados! É o que somos muitas vezes. Quantas vezes preferimos dançar a marchinha da vítima do sistema?

No fim da fila, agradecemos a gentileza daquele senhor e demonstramos nossa admiração pela iniciativa dele. Ele confidenciou-nos que era a primeira vez que alguém o ajudava...

Impressionante ver o povo assistindo àquele espetáculo como se fosse uma cena corriqueira. Seria tão bom ver uma cidade cheia de: “muito obrigada”, “por favor”, “pode passar”, “quer uma ajuda? ” , “vou lá fazer sacolas”...



quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

O peso, a leveza e o ar.




Recentemente um amigo muito estimado contou-me a novidade dos seus últimos três anos. A mãe de uns 80 anos de idade, após uma tola queda, sofreu uma grave fratura. Ela agora residia com ele e a esposa. Nessas horas sempre me lembro do escritor Gabriel Garcia Marques, que certa vez escreveu mais ou menos assim: uma queda determina o início da velhice. Sábio Gabriel!
Diante do fato relatado pelo amigo, ainda aturdido por tantas mudanças em seu cotidiano, perguntei como era a mãe dele fisicamente, se era magra, saudável e lúcida. Ele respondeu afirmativamente, e ainda comentamos que talvez o fato de sua mãe ser magrinha poderia ter minimizado a gravidade da fratura, e provavelmente contribuiu com o seu restabelecimento. Afirmei que o sobrepeso na terceira idade gerava tantas dificuldades no cotidiano do idoso, que me levava a pensar se não deveríamos ser mais leves para sermos “menos pesados” na velhice.
Verdade seja dita, negamos tanto a condição da velhice, que nos imaginamos de cabelinhos brancos mas bem lúcidos e em plena forma física. Meus caros, se a nossa opção continua sendo o mais primitivo dos mecanismos de defesa, que é a negação, não seria melhor mudarmos por consideração aos nossos filhos, esposas, maridos ou qualquer outro inevitável cuidador?
De fato, a vida grita aos nossos ouvidos para que sejamos independentes e, se possível, não dependamos de ninguém para sermos felizes! Vidinha infame! Disseminamos o egocentrismo e esquecemos que da mesma forma que um dia tivemos um cuidador quando nascemos, no futuro novamente necessitaremos de um cuidador muito mais zeloso, forte e paciente.
Meus caros, se vocês ainda acham que a saúde diz respeito ao dono do corpo, creio que há um grave engano! A saúde pertence a todos que convivem com vocês! Sabem aquele papelzinho que alguém joga no chão, e que ninguém tem nada com isso, mas que num futuro bem próximo coloca esse alguém num alagamento com mais 50 ou 100 pessoas, e que não tinham nenhum conhecimento daquele papelzinho? Então... O papelzinho é o pensamento egoísta, e por vezes negligente, daquele que não cuida da própria saúde!
Há alguns anos escutei a história de um rapaz enlutado pela perda da mãe há mais de três anos. Entristecido, contou-me da dor da perda e também de uma dívida contraída durante o tratamento da mãe. O rapaz ,triste, falou do seu sentimento de impotência diante da condição da mãe que era fumante e que acabou morrendo de câncer de pulmão. A dívida dele? Aluguel de cilindros de oxigênio... Pensei, meu Deus, o filho ainda pagava pelo o ar que a mãe trocou pela fumaça... triste história, mas espero que sirva de exemplo a todos que desejam parar de fumar ou melhorar sua condição de saúde. Lembrou do papelzinho com esta história? Eu também!