sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

Rosas Toscas


Esta parece uma daquelas histórias de comédia romântica, onde as amigas da noiva se reúnem para ir a um casamento fora da cidade e muitas situações inusitadas ocorrem.
A noiva promoveu um encontro e apostou nesse grupo de mulheres. Todas ficariam na mesma casa, dividiriam o mesmo carro, enfim, tinha tudo para dar errado! 
Ninguém se conhecia o suficiente para dividir casa, comida e transporte.
Quatro totais desconhecidas se aventurando na Praia do Rosa para ver a amiga querida se casar.
Tudo certo, vamos à viagem...
A primeira prova de que iria funcionar esse quarteto, foi o ar condicionado que não ter funcionado,  justo no engarrafamento da BR 101. Foram mais de duas horas num calorão dos infernos, e o papo rolando frouxo.
O assunto da viagem, alguém imagina? Sim, homens! E tudo girando em torno de como reagir como uma perfeita donzela, a fim de não afugentá-los.  A motorista do grupo sacou um livro daqueles que eu tremo nas bases quando vejo.  Livro do tipo: deixe que ele faça, deixe que ele comande, deixe que ele escolha... e assim você o conquistará!
Eu tenho verdadeiro asco daquele último lance de desespero no final de um segundo tempo sem gol! 
Mulher que tem que se fazer de sonsa... Pra pegar marido???  Vergonhoso!
Uma das amigas, diga-se de passagem, linda, inteligente, relatou que os homens tem receio dela. 
Sabe aquela velha história que a gente já sabe, que o certo é fingir para fisgar?
Em resumo: negue sua inteligência, negue sua independência.  
Aliás faça como a música, "pise machucando com jeitinho" em tudo que você aprendeu a ser para sobreviver! 
Um dia um cara chamou a nossa amiga de "tosca".
Caímos na gargalhada porque realmente, o termo era muito divertido. Mas denunciava um defeito...
Ela não sabia ser mulherzinha.  Enfim, ela era independente demais! 
Passamos o final de semana inteiro aconselhando a pobre tosquinha. 
Contudo, nos demos conta de que cada uma de nós sofria de um certo grau de tosquice.
O maldito livro recomendava ainda recomendava: dê algo para ele fazer, faça com que ele se sinta útil, protetor, eficiente, macho, viril, poderoso. 
Puxa vida! Ninguem merece tanto controle de variáveis. Sem falar que parece que este homem é um inseguro que precisa sempre ser validado, incentivado!
Ao mesmo tempo, qual a medida adequada de tosquice? Estaríamos certas ou erradas?
Como não seriamos toscas? Como fingir que não termos opinião, e que não sabemos o que queremos? 
Enfim, como não abrir a porta do carro para o homem entrar?!
De volta à Porto Alegre, pegamos uma estrada alternativa, e seria quase uma aventura.
Mas estávamos ali firmes e fortes, agora amigas! 
E prometemos para nós mesmas que seríamos mais Rosas e menos Toscas!
Eis que no meio do caminho, percebemos que estávamos perdidas. 
Perguntamos para um senhor, qual seria o caminho e ele respondeu: - Olha vocês vão ter que voltar e passar pela ponte que pegou fogo... (?) Como assim? Perguntamos.
Ele explicou: - Não se preocupem porque,  se eu varo com minha camioneta, vocês varam também! (?)
Varar? Deixa quieto trancamos o riso...
Demos a volta e seguimos a orientação, só pensando... “ ponte que pegou fogo? ” e que raio de verbo é esse? Varar?? Bom, mas se o velhinho disse que ele passava. Então a gente vai passar!
Morremos de rir da situação, até chegarmos na ponte...
Como eu havia imaginado, a ponte estava preta feito carvão, mas uma parte, ainda que ruim, era transitável.
A nossa motorista, parou o carro atônita. Eu imediatamente calcei o tênis e desci para  averiguar a situação. Mal abri  a porta, me deparei com a tosquinha dorminhoca que num impeto já pulava na ponte testando sabe-se  lá o que com o peso leve dela! 
Eu me postei na parte trafegável e já ensaiava a coreografia do flanelinha, “mais pra esquerda, alinha, por aqui...”  E a tosquinha mais meiga e zen, nos surpreendeu. 
Saiu no verbo encorajando a nossa motorista, “ se tu não passar, eu passo!”
A nossa motorista era aquela que o cara chamou de "tosca"! 
Era óbvio que ela passaria aquela ponte! Ufah! 
Entramos no carro às gargalhadas!
Perceberam onde ficou a teoria? Queimamos na ponte!