quarta-feira, 4 de janeiro de 2017

E assim nasceu o Projeto Ladrilhar


“Se essa rua fosse minha, eu mandava ladrilhar...”
Foi com essa música na cabeça, que eu acordei numa manhã de outono. 
Imediatamente vi uma imagem, era a escadaria da minha rua toda bela e colorida de cima a baixo. 
Abandonada há mais de 50 anos
Há menos de um mês eu havia recebido uma doação de azulejos e pastilhas, e a minha intenção era dar continuidade nas atividades de mosaico em minha casa recentemente revitalizada :). Mas o volume de materiais, e mesmo o fato de ter recebido em doação, induziam-me a pensar que eu deveria destinar aquilo para algo público, mas não sabia muito bem onde, e de que maneira...
A música da infância continuava me martelando enquanto eu tomava café. A imagem daquelas lindas e vivas cores me instigava, me lembrei da Selaron do Rio de Janeiro. 
Resolvi então acolher aqueles sinais...
Coloquei um tênis, peguei uma trena, um bloco de anotações e, resolvi re-conhecer o local, que há um ano teria sido alvo de descontentamento dos moradores da minha região.
Revitalizada obra finalizada em Nov 2016
Ocorre que, a escadaria abandonada há mais de 50 anos, é local de passagem de moradores, alunos de escolas da região e pasmem, também por motociclistas que a usavam-na como pista. Mas também abrigava usuários de drogas e criminosos ocasionais. O motivo era que a conexão com um beco facilitava a fuga e até mesmo furtos de carros em nossa rua.
Enfim, há um ano todos nós desejávamos mesmo era acabar com o beco, com a escadaria, com a insegurança... 
Obviamente que não poderíamos resolver aquele problema daquela forma... a escadaria não tinha nada com aquilo... 
A escadaria era uma conquista...apesar da degradação.
Ao subir a escadaria naquela manhã, era como se eu reencontrasse a minha infância. Me deu dó da pobre malfadada escadaria, a qual imputavámos uma série de responsabilidades. Subi seus degraus corróidos pelo tempo e fui percebendo o desafio de recuperá-la...mas também vi seu potencial frente áquela comunidade.
Apesar da ação do tempo, o local é surpreendentemente verdejante e o canto dos pássaros são a trilha sonora de quem ali passa. O limo parecendo um veludo entre os vãos e lindas heras em suas laterais mostravam que apesar de tudo a natureza não esquecera aquela escadaria. Resolvi então contar cada lance de escadas, ao mesmo tempo que retomava a minha relação de afeto e memórias com aquele espaço. Confesso que o primeiro e maior lance de escadas desafiou meu equilíbrio, pois cada degrau simplesmente não comportar o meu pé de 36, obrigando-me subir de lado. Senti que não seria tão fácil uma empreitada ali, pois teríamos que fazer muitos e muitos reparos. Chegando ao primeiro patamar, olhei a vista de lá de cima e me espantei com a visão do morro em frente, ainda preservado, para nossa sorte. 
Obra completa 88 degraus em mosaico
Segui minhas anotações e percebi que uma água escorria pela lateral da escada, então percebi que um senhor alto de cabelos brancos lavava os degraus de cima. Logo imaginei que aquele senhor que tão cedo zelava pela escadaria, poderia ser um futuro simpatizante. Quando finalmente cheguei ao topo, o tal senhor me perguntou o que eu fazia ali. Me apresentei dizendo que era uma moradora com algumas intenções e que tinha um projeto de revitalizar aquele espaço já que eu era mosaicista, meio maluca rsrs, etc etc. Mal sabia ele, que na verdade o Projeto nascia em cada degrau que eu ia subindo. Quando terminei de mencionar minhas intenções, ele me olhou com um ar intrigado, e disse: - Você não vai acreditar... Esta manhã eu estava vendo um programa de TV sobre ações sociais, e comentei com a minha esposa: “meu sonho era ver um dia esta escadaria toda LADRILHADA... 
A música...o sonho...as cores...a palavra conectada.
E assim nasceu o Projeto Ladrilhar...
Assista à matéria veiculada em 22/12/2016 pela TV Record:


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